Nas últimas semanas, a Marfrig tem intensificado sua presença na BRF, como parte de uma estratégia iniciada em 2021. A mais recente movimentação nessa direção veio à luz na segunda-feira, com o anúncio de que a empresa liderada por Marcos Molina agora detém uma participação de 45% na BRF.
Em um indicativo do ímpeto crescente, há apenas três meses, essa fatia era de 33,3%. Nessa ocasião, a Marfrig, demonstrando seu apetite por esse ativo, liderou, juntamente com o fundo saudita Salic, o follow-on no qual a BRF captou R$ 5,4 bilhões, contribuindo com um investimento de R$ 1,8 bilhão.
Esses avanços recentes têm suscitado algumas questões que permeiam o mercado desde o início dessa estratégia: qual é a intenção da Marfrig com essa crescente participação e quais são as perspectivas de uma fusão entre as duas empresas, algo que foi discutido em 2019, mas nunca se concretizou.
Estes são os tópicos abordados em um relatório recentemente divulgado pelo BTG Pactual. O banco parte, em sua análise, do fracasso da tentativa de fusão ocorrida quatro anos atrás para projetar os desdobramentos desses laços cada vez mais estreitos entre as duas empresas.
Os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin, autores do relatório, sugerem que o acordo anterior não avançou porque limitaria a influência e o poder do acionista controlador da Marfrig sobre a empresa resultante da fusão. Isso se refere à MMS, a holding de Molina que controla a Marfrig, detendo 61,8% de participação. “Essa é a principal razão pela qual não acreditamos que uma fusão acontecerá agora (ou talvez nunca aconteça)”, acrescentam os analistas.
O BTG estima que, considerando o valor atual de ambas as empresas, uma fusão diluiria a participação da MMS na nova entidade para apenas 25%. Além disso, o banco observa que as sinergias resultantes seriam limitadas e não justificariam a fusão após a redução dessa participação.
Os analistas apontam que a Marfrig já exerce uma influência significativa na estratégia, no conselho e na equipe de gestão da BRF, consolidando integralmente o balanço da BRF.
O BTG observa que, além do investimento de R$ 1,8 bilhão no follow-on da BRF em julho, a Marfrig também investiu aproximadamente R$ 1,9 bilhão para alcançar sua atual participação de 45%.
Em seu cenário-base, o BTG sugere que a Marfrig está utilizando todo o capital disponível para adquirir mais ações da BRF, o que, por sua vez, ajudaria a reduzir o preço médio de aquisição, estimado pelo banco na faixa de R$ 16 a R$ 17. Os analistas afirmam que, até certo ponto, se a Marfrig continuar aumentando sua participação na BRF, uma fusão pode se tornar desnecessária.
Eles também especulam que uma parte dos R$ 6 bilhões restantes da venda de ativos para a Minerva pode ser usada para expandir ainda mais essa participação e que, em última instância, a fusão seria uma opção caso a alavancagem da Marfrig se tornasse excessivamente alta.
Nesse contexto, o BTG mantém uma recomendação neutra para ambas as empresas. No caso da BRF, o banco mantém um preço-alvo de R$ 12, com uma perspectiva de curto prazo positiva, baseada na melhora do ciclo de produção de aves e nas margens mais favoráveis previstas para os próximos trimestres.
Para a Marfrig, com um preço-alvo de R$ 10, os analistas elogiam o acordo com a Minerva, mas sugerem que a visão seria ainda mais positiva se a empresa optasse por usar esses recursos para reduzir sua alavancagem, em vez de investir na expansão de sua participação na BRF. No segundo trimestre, a Marfrig registrou uma alavancagem, medida pela relação dívida líquida/Ebitda, de 3,50 vezes, em comparação com 2,0 vezes no mesmo período do ano anterior.
Por volta do meio-dia, as ações da Marfrig estavam cotadas a R$ 6,73, com uma queda de 2,75%, enquanto as ações da BRF eram negociadas a R$ 10,68, com uma queda de 1,11%. A Marfrig tinha uma avaliação de R$ 6,3 bilhões, e a BRF, de R$ 17,9 bilhões.
Fonte: Neofeed