Quando atuava na indústria de bens de consumo, em empresas de grande porte como Kraft Heinz e Mondelez, Raphael Traticoski identificou um desafio recorrente: a complexidade na terceirização da produção e na gestão de fornecedores.
Com o objetivo de abordar essa questão e criar uma oportunidade de negócio, ele fundou a GrowinCo há quatro anos, uma startup que tem sido comparada ao ‘Uber das indústrias’.
Em linhas gerais, a GrowinCo conecta fábricas com capacidade ociosa a outras indústrias ou marcas que necessitam de produção rápida, proporcionando uma gestão eficiente desses terceirizados por meio de uma plataforma de software como serviço (SaaS).
Nos Estados Unidos, esse mercado é conhecido como ‘comanufacturing’ (ou comanufatura). Tradicionalmente, uma multinacional sem capacidade fabril para lançar um novo produto precisaria contatar diversas fábricas individualmente, verificando a disponibilidade e, posteriormente, formalizando contratos.
“Essas grandes empresas sempre mantêm padrões de qualidade elevados, tornando a seleção das fábricas um processo rigoroso,” observa Raphael ao Brazil Journal.
Esse procedimento convencional resulta em um tempo médio de aproximadamente 20 meses, desde o desenvolvimento até a chegada do produto às prateleiras, conhecido como ‘speed to market’. Contudo, ao unir as duas pontas e fornecer uma plataforma que consolida os dados de todos os prestadores de serviços, a GrowinCo afirma ter reduzido esse prazo pela metade.
Raphael destaca: “Realizamos sempre uma avaliação prévia para garantir a qualidade das fábricas. O segredo de como identificamos essas indústrias e enriquecemos seus dados é por meio de um algoritmo que identifica a ociosidade com base em dados históricos e mapeia os produtos fabricados por cada unidade.”
Recentemente, a GrowinCo concluiu sua primeira rodada de captação de US$ 1 milhão, contando com investimentos de três fundos de estágio inicial – Harvard Angels, GV Angels e Urca Angels – além da participação da Mandi Ventures, a gestora de venture capital de Antônio Moreira Salles e Julio Benetti.
Embora a GrowinCo tenha sido lucrativa desde o sexto mês de operação e não tenha realizado rodadas de captação anteriormente, Raphael explica que decidiram fazê-lo agora devido à identificação do ‘product-market fit’. Ele expressa confiança na escalabilidade da tese de negócios.
No atual modelo, a GrowinCo opera exclusivamente com ecossistemas personalizados para grandes clientes, que integram sua rede existente de fornecedores à plataforma, sendo posteriormente expandida com a rede da startup.
Raphael explica: “Nesse formato, tornamo-nos a plataforma oficial de colaboração deles com os fornecedores, permitindo a gestão integral desses terceirizados. Fornecemos dados detalhados sobre cada fábrica, como níveis de ociosidade e produtos fabricados, auxiliando também na administração de todo o processo, incluindo acordos de confidencialidade.”
A startup gera receita exclusivamente por meio de assinaturas mensais, sem cobrar comissões sobre transações. No entanto, a GrowinCo está desenvolvendo um marketplace destinado a indústrias de médio porte, marcas digitais e marcas próprias de supermercados.
Um protótipo já está em operação, contando com a participação de 50 indústrias que pagam uma taxa sobre as transações. Raphael espera que, no futuro, a receita proveniente de transações se torne a principal fonte de renda da startup, superando as assinaturas.
Atualmente, a GrowinCo possui 86 mil indústrias cadastradas na plataforma, englobando clientes e terceirizados, incluindo multinacionais como Mondelez, Kellogg’s, Natura&Co e Ajinomoto. Cerca de 70% da receita provém de fora do Brasil, com os Estados Unidos representando 30%, o México 8%, e o restante distribuído entre vários países.
A alocação de parte dos recursos da rodada visa impulsionar ainda mais a presença nos Estados Unidos, onde o mercado de ‘comanufatura’ é mais maduro, principalmente devido à maior penetração das marcas próprias de supermercados. Raphael comenta: “A Europa é ainda mais madura, e estamos começando a ter algumas iniciativas por lá também.”
Fonte: Brazil Jourmal