A Iguá Saneamento já bateu o martelo. Nesse momento, vai embarcar na finalização de uma transação para receber um aporte de 500 milhões de reais do Canada Pension Plan (CPP) e deixar para o futuro os planos de uma abertura de capital (). A decisão foi tomada hoje, em reunião do conselho de administração da companhia, conforme fontes próximas ao assunto consultadas pelo EXAME IN.
A transação pode mudar o status da companhia e fazer a Iguá ingressar na era do capital paciente, deixando para a história a fase de reestruturação de dívidas.
A expectativa é que a assinatura do negócio possa ser feita dentro de 30 dias. Esse foi o prazo solicitado pelo CPP dentro da renovação de um acordo de exclusividade para que as partes possam redigir os documentos finais — bem aquele momento em que as pequenas encrencas de contrato aparecem.
O CPP fez uma oferta mínima para colocar 1,1 bilhão de reais na Iguá. Desse valor, cerca de 600 milhões são para aquisição de participações secundárias, ou seja, de outros acionistas, e 500 milhões de reais para uma injeção de capital.
A companhia, a antiga CAB Ambiental, está sendo avaliada em 2 bilhões de reais na rodada pré-capitalização e, portanto, em 2,5 bilhões de reais, na post-money. A empresa é gerida pela IG4 Capital. A gestora fundada por Paulo Mattos, egresso da GP Investimentos, é responsável pelo fundo que detém 89% do capital da Iguá — há 11% do capital fora dessa carteira, que pertencem ao BNDES.
No fundo, estão hoje como cotistas a própria IG4, com 22% da empresa, a canadense Alberta Investment Management Company (AimCo), dona de 49,2% da companhia, e o fundo Cyan, com quase 18% do negócio.
Pela proposta, a IG4 segue como gestora e, portanto, controladora. Mas sua participação econômica e societária na empresa, como cotista do fundo, deve recuar para 6,4%, após todas as rodadas com o CPP. No negócio, o fundo de pensão canadense vai comprar a participação do Cyan e permitir que a IG4 liquide um contrato de swap de dívida com o Bradesco, equivalente a uma fatia de 13,9% da empresa antes da capitalização. Cyan e Bradesco já deram o aval para as condições oferecidas.
Capital paciente
A Iguá entrará definitivamente em sua vida nova: a rotina é falar de crescimento, expansão e investimento e não mais de reorganização de dívida.
A dupla de canadenses, AimCo e CPP, serão majoritários no capital — mas seu investimento será feito por meio da gestora de Paulo Mattos. Ambos costumam fazer investimentos sem prazos para liquidação de negócios e deterão juntos 85% empresa. A ideia é que ofereçam suporte para a Iguá quando, diante de oportunidades de aquisição e de participação nas privatizações, houver necessidade de novos aportes. A listagem na bolsa pode vir no futuro, atrelada a grandes passos.
No passado, em entrevista ao EXAME IN, Mattos disse que o modelo de referência para a Iguá é a Equatorial Energia, que cresceu e se capitalizou via mercado à medida que os projetos surgiam — uma true corporation com cultura forte. Coincidências à parte, o CPP é sócio da Equatorial. Esse contudo, será o primeiro investimento no setor de saneamento do fundo.
O CPP se aproximou da Iguá meses atrás, no contexto do IPO da companhia. Abriu diálogo, no começo, disposto tanto a ser um investidor âncora em uma possível oferta pública quanto a fazer uma capitalização privada. No fim do ano, quando encaminhou sua proposta após 60 dias de diligência nas contas da Iguá deixou claro, então, que só aceitaria uma capitalização privada.
A Iguá deve disputar os quatro clusters do leilão da empresa carioca Cedae. No total, eles demandam 10 bilhões de reais em investimentos com outorgas, mais um compromisso de investimento de 30 bilhões de reais. Por isso, a expectativa é várias empresas fatiem o ativo. E, da lista de próximas vendas coordenadas pelo BNDES, há interesse em grande parte dela.
Fonte: Exame