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Incêndios florestais extremos devem aumentar mais de 50% até o fim do século, alerta ONU

A probabilidade de incêndios florestais que devastam enormes superfícies, como os registrados na Austrália em 2019 e no Pantanal da América do Sul em 2020, aumentará gradualmente ao longo do século. O alerta é dado pela ONU e o centro de estudos do meio ambiente GRID-Arendal em um relatório divulgado nesta quarta-feira (23).

Da Califórnia ao Ártico, imagens de imensos incêndios devorando florestas e habitações se tornaram comuns. De acordo com o relatório da ONU e do GRID-Arendal, esse é apenas o começo de um fenômeno que deve piorar ao longo das próximas décadas.

Naturais, acidentais ou provocados, essas catástrofes não são causadas diretamente pelo aquecimento global, mas geralmente devido a secas cada vez mais intensas e prolongadas, diz o relatório. Os dados levantados no documento envolvem apenas os incêndios de maior magnitude, que antes aconteciam uma vez a cada cem anos.

A ONU e o centro de estudos do meio ambiente GRID-Arendal alertam que independentemente da redução do aumento da temperatura média a +2°C na comparação com a era pré-industrial –objetivo principal do Acordo de Paris– o número de incêndios catastróficos aumentará entre 9% e 14% até 2030, entre 20% e 33% até 2050 e entre 31% e 52% até 2100.

“Mesmo que os esforços mais ambiciosos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa sejam cumpridos, o planeta sofrerá um aumento dramático da frequência das condições que favorecem os incêndios extremos”, afirma o relatório.

Com as novas condições climáticas, os eventos incomuns “aumentarão levemente sua probabilidade”, explicou um dos autores do relatório, Andrew Sullivan, da agência australiana CSIRO, em entrevista coletiva. O documento não aborda o aumento de todos os incêndios florestais, independentemente da categoria, mas “é provável que os episódios menos extremos aumentem da mesma maneira”, declarou.

Incêndio no Pantanal: um caso emblemático

O caso do Pantanal, maior área úmida do planeta, localizado entre Brasil, Bolívia e Paraguai, é emblemático, explica o estudo. A região sofria uma forte seca desde 2019 e os incêndios excepcionais aconteceram no ano seguinte. Até agosto de 2021 quase quatro milhões de hectares foram queimados.

Atualmente, a América do Sul é palco de um imenso incêndio, na província de Corrientes, no nordeste da Argentina. Desde meados de janeiro, cerca de 800 mil hectares de vegetação foram destruídos, resultando em altos prejuízos para o setor agrícola e enormes estragos para o meio ambiente.

“Os incêndios florestais e a mudança climática se alimentam mutuamente”, destaca o relatório. Os solos são degradados, as emissões de CO2 disparam temporariamente e as florestas param de cumprir a missão de captar o carbono.

Os autores insistem que a resposta dos governos consiste com frequência em gastar dinheiro inutilmente. Além disso, o relatório aponta que o valor dos prejuízos causados pelos incêndios é mais elevado do que os investimentos para combatê-lo. Por isso os especialistas defendem que esse desequilíbrio seja corrigido investindo na prevenção: reduzindo atividades que possam iniciar o fogo, gerenciando melhor a vegetação morta no solo e protegendo as residências.

Perigo para o planeta e a humanidade

Mesmo sem considerar o agravamento da situação, os incêndios já representam hoje um perigo para a vida do planeta e às pessoas, com a inalação de fumaça, degradação dos solos e poluição da água e a destruição dos habitats de várias espécies. O relatório ainda lembra a piora do aquecimento global com a destruição das florestas, cruciais para absorver o carbono emitido.

No entanto, se eliminar o risco dos incêndios é impossível, os especialistas insistem na necessidade de diminui-los. Uma das saídas seria melhorar a gestão dos combustíveis –ou todo o material que pode potencialmente pegar fogo.

O custo de apagar incêndios é muito maior do que os investimentos anteriores para limitar os danos. “Temos que minimizar os riscos de incêndios com uma preparação maior: investir mais na redução de riscos, trabalhar com as comunidades locais, reforçar os compromissos mundiais contra a mudança climática”, resumiu Inger Andersen, diretora-geral do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Fonte: Folha

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