Artigo de Pedro Bono*
A presença de ferramentas inovadoras reflete diretamente na possibilidade de se construir uma operação segura e em conformidade com as políticas internas
Geralmente, quando se debate o impacto da transformação digital e suas contribuições, é ponto passível de entendimento os ganhos técnicos que plataformas de automação podem oferecer. Não é difícil centralizar as atenções no ato de se implementar a tecnologia e deixar movimentações externas à transição para a máquina em segundo plano. Trata-se de um erro que não só dificulta a extração dos reais benefícios ligados ao uso de soluções digitais, como inibe a organização de buscar novos horizontes em termos de compliance e estabilidade fiscal. Por isso, pontuo a necessidade de se explorar a profundidade que o assunto demanda.
Ao levarmos a discussão para setores de contas a receber, encontramos um espaço amplo para a inserção do compliance através de uma percepção estratégica em harmonia com preceitos básicos de inovação que, por sua vez, não se limita à tecnologia em sua figura máxima. No ambiente operacional de uma governança madura e estruturada, inovar é um caminho bem-vindo de se aprimorar a filosofia interna de qualquer negócio, em diversas frentes. Desde uma mentalidade humanizada à potencialização dos profissionais sob a precisão da máquina. Transparência e segurança são elementos importantes nesse processo.
Gestão orientada a compliance é realidade inadiável
Para que uma empresa permaneça em harmonia com leis, normas e regulamentações, é necessário encarar o departamento de compliance com a seriedade imposta ao tema. Não se trata de um investimento secundário ou de fácil postergação. A vigilância legal está colocada no país desde a chegada da Lei Anticorrupção, em 2014. Nos próximos meses, é esperado que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) retorne a pauta e tenha sua vigência programada pelas autoridades responsáveis, atribuindo uma nova e complexa dinâmica quanto ao armazenamento e fluxo de dados. Projetando um futuro cada vez mais próximo, é fundamental estabelecer limites e cuidados com a fragilidade de procedimentos manuais ou propensos a falhas críticas e extremamente danosas à saúde fiscal.
É caminhando nessa direção que a figura de liderança corporativa deve abrir as portas de sua empresa à inovação e suas alternativas operacionais, sem receios ou hesitações antiquadas. Logo após identificar lacunas e avaliar a quantidade de riscos que se está enfrentando, é possível definir os métodos mais indicados para se lidar com cada ameaça ao bem-estar do negócio. O resultado é uma sinalização positiva para práticas de controladoria que visam o cumprimento de regras internas e externas, minimizando a chance de problemas como ações judiciais, por exemplo, ocorrerem.
Inovação como matéria-prima para conformidade operacional
Atualmente, ter um controle efetivo de atividades, uma grande automatização de tarefas repetitivas e multicanais de atendimento aos clientes com rigoroso controle de interações nas áreas de contas a receber devem ser encarados como requisitos básicos para organizações que se preocupam com a congruência em suas atividades. Com a responsabilidade de se conduzir tarefas padronizadas e de caráter essencial, o gestor terá tempo e totais condições de sustentar uma mudança gradual em seus processos operacionais, sempre sob a fiscalização de hábitos indispensáveis, como auditorias internas e sistemas de monitoramento.
Sair do lugar comum e procurar por meios viáveis de se estruturar um ambiente processual estável e seguro. Essa finalidade torna-se factível com a criação de um programa de compliance capaz de fortalecer operações e assegurar que as mesmas estejam otimizadas.
Controles efetivos e o relacionamento com o cliente
Na gestão de contas a receber, o fator comportamental e particular de cada cliente tem um peso considerável sobre a forma como o gestor conduz essas interações. Isso significa lidar com uma quantidade elevada de informações pessoais com caráter sensível sob a ótica da LGPD. Deslizes relacionados à integridade desses dados podem provocar estragos imensuráveis na imagem e condição financeira da organização. Afinal, sanções milionárias estão previstas na nova legislação como forma de se punir e até educar um contexto de empresas que ainda carece de aprimoramento no campo informacional.
Os times financeiros das empresas devem contar com plataformas tecnológicas especialistas em contas a receber para ter controle completo das atividades realizadas em cada etapa operacional e para assegurar um relacionamento seguro com os clientes. Esse aprimoramento bem-vindo da tecnologia permite o desenvolvimento das atividades em conformidade com as políticas internas e a aplicação dos conceitos difundidos de Customer Experience.
*PEDRO BONO , CEO E COFUNDADOR NA RECEIV, PLATAFORMA INTELIGENTE DE CONTAS A RECEBER. É DOUTOR PELA FGV E PROFESSOR DE GESTÃO DE RISCO DE CRÉDITO NAS MELHORES ESCOLAS DE NEGÓCIO DO PAÍS.