Esqueça a portinha com letreiro neon ou aquela gôndola lá no fundo da farmácia. A sexshop da nova geração, reenquadradas como femtechs e sextechs, querem seus vibradores e lubrificantes expostos e acessíveis. A Feel e a Lilit, duas marcas nativas digitais com atuação no segmento, uniram as operações para buscar uma rodada pré-seed.
Com um único produto, a Lilit já faturou R$ 1,7 milhão desde que iniciou suas operações, no segundo semestre de 2020. O vibrador, o primeiro no Brasil desenvolvido por mulheres, foi responsável por inaugurar a categoria de bem-estar sexual em varejistas como Magalu, Amaro e Holistix. Mas apesar do sucesso do B2B, cerca 70% acontecem pela plataforma própria da marca, que aposta no conceito de comunidade.
O negócio da Feel é complementar. Com uma linha de produtos veganos para a região íntima, a startup oferece desde lubrificantes até itens de cuidado médico, como sabonetes e hidratantes — voltados a mulheres na menopausa, por exemplo. Também fundada em meio à pandemia, com a explosão da demanda por produtos naturais e de bem-estar, a marca cresceu 70% de forma orgânica e levantou R$ 550 mil num equity crowdfunding da plataforma Wishe — 84% dos investidores são mulheres.
“Estamos somando duas marcas que, juntas, dá muito mais que dois”, diz Marília Ponte, fundadora da Lilit. “Nossa visão é unificar para explorar as sinergias, mas também criar novas soluções. Vários momentos da saúde feminina passam pelos mesmos problemas. Existe essa liberdade de falar e cuidar do erótico, mas não é o todo do que a gente quer explorar”. Hoje, os produtos da Feel já são vendidos no site da Lilit e vice-versa. Com o tempo, haverá uma única plataforma.
No mercado brasileiro, ainda bem menos maduro que o americano, outras DNVBs da categoria também concorrem por público. Primeira a desenvolver uma linha própria no país, ainda em 2018, a Pantynova chegou a ser acelerada pela Endeavor. Há também a Lubs, especializada em lubrificantes.
Para as fundadoras da Lilit e da Feel, ainda é um oceano azul. O Allied Market Research estima que o setor de sexual wellness deve movimentar cerca de US$ 108 bilhões em todo o mundo nos próximos cinco anos.
A vertical que as concorrentes não estão explorando e é uma das principais apostas da nova companhia é de conteúdo. “A gente quer ser a Amazon da intimidade”, diz Marina Ratton, fundadora da Feel. “Tanto no sentido de fortalecer e expandir nossa linha de produtos próprios, mas também porque queremos ter nosso Prime de saúde feminina. Nossas consumidoras querem aprender sobre a própria anatomia, se conhecerem melhor, isso muda a qualidade de vida. Muitas delas só têm como referência a pornografia, que é completamente fora da realidade.”
Atualmente, a plataforma tem um MVP de conteúdo educativo e outros materiais públicos das startups, como ebooks e vídeos, já chegaram a 16 mil downloads em troca de dados das usuárias. O Projeto de Sexualidade da USP (Prosex) constatou que quase 60% das mulheres brasileiras sentem dor durante a relação sexual e 55% têm dificuldade para chegar ao orgasmo, por exemplo. No Google, 80% das buscas em 2021 com a expressão “ser normal” estão relacionadas à saúde feminina.
Agora, a startup quer atrair investidores institucionais. As fundadoras têm procurado fundos e gestoras que compartilhem da visão de negócio para um aporte ainda neste ano. O cenário de menor liquidez para starups pode atrapalhar, mas as empreendedoras acreditam que o modelo de gestão sustentável pode ser um trunfo.
Fonte: Pipeline Valor