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Liderança feminina em tecnologia: o desafio do mercado

Apesar do desequilíbrio de gênero, uma nova geração de lideranças femininas busca fazer a diferença no mercado profissional. No setor tecnológico não é diferente, onde o ambiente é, predominantemente, masculino. Fatores históricos e culturais influenciaram, por muitos anos, a percepção de profissões vistas como masculinas e femininas, mas com o passar do tempo, muitas mulheres vêm buscando alterar essas estatísticas.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, apenas 37,4% das posições gerenciais no Brasil são ocupadas por mulheres. Porém, nos últimos anos, nas empresas de médio porte, o perfil feminino conquistou mais cargos de gestão e passou a representar 39% dos executivos com poder de decisão, segundo o Women in Business 2021, pesquisa realizada, anualmente, pela Grant Thornton. 

Isso só enfatiza que essa concepção de igualdade passa a ser internalizada e vista como estratégica para que as companhias se tornem mais sustentáveis, mas ainda distante de onde deveríamos estar.

Bastante inserida em ambientes, historicamente, masculinizados, desde a minha primeira formação em engenharia, ou no início da minha carreira profissional na área financeira e depois no segmento automotivo, fui aprendendo a sobreviver nesses ambientes. Sim, sobreviver. Engraçado como hoje percebo a personalidade masculina que desenvolvi, sem perceber, para ganhar espaço e voz dentro das grandes corporações.

Muitas vezes fui preenchida pelos questionamentos do propósito do que eu fazia e buscar levantar a bandeira da igualdade de gênero, constantemente, era uma resposta. Sempre propus transformar o espaço masculinizado que eu habitava, em um lugar, ao menos, mais acolhedor do que havia sido para mim e para as mulheres, que integravam o quadro de funcionários naquele momento. Havia uma grande vontade interna de já estar em um ambiente com senso de pertencimento, mas também uma vontade de lutar, onde ele ainda não era presente.

O meio tech ainda é, majoritariamente, ocupado por homens, mas há um mindset de mudança e maior foco em reverter esses números do que é possível presenciar em diversos segmentos. Segundo dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a participação feminina no mercado tecnológico no Brasil cresceu 60% nos últimos cincos anos, passando de 27,9 mil mulheres para 44,5 mil em 2020. 

Em contrapartida, um levantamento realizado pela plataforma de empregos Catho mostrou que mesmo com 52% da população brasileira sendo ocupada por mulheres, a presença delas na área de tecnologia é de apenas 23,6%. Ou seja, há um progresso, porém, embrionário que necessita ser acelerado com compromissos. Sem mencionar a desigualdade salarial a ser levantada. Assunto este que rende um outro artigo inteiro.

Mas voltando ao foco principal, é importante levarmos em conta que o incentivo neste setor aumentou nos últimos anos e, atualmente, existem iniciativas de gigantes do segmento, que me fizeram despertar para migrar para tecnologia e ser parte dessa mudança.

Quando tive a oportunidade de integrar a Caravel X, me apaixonei pela proposta não só de estar em um setor que está buscando aumentar a participação de mulheres no segmento, como a vontade da startup de associar a tecnologia ao impacto sócio-ambiental já no início de suas operações, onde sou responsável pela área de Marketing e também de Impacto.

Em Harvard, pude me aprofundar em Estratégias de Negócios Sustentáveis para poder contribuir com o crescimento da empresa de forma estruturada e diversa. Temos o foco e o compromisso de melhorar nossos indicadores de igualdade de gênero na empresa, já em 2022 e nos desenvolvendo para conseguir formar profissionais nesse mercado.

Me lembro, perfeitamente, da conversa com o sócio da Caravel X, Alexandre Salmon, quando, proativamente, mencionei a maternidade como um desejo próximo, pronta para ser julgada e encerrar a conversa, quando na verdade, fui acolhida. E com certeza, foi um fator decisivo para aceitar a proposta.

Orgulho-me muito de desenvolver uma carreira híbrida passando por diversos setores, podendo conhecer ambientes e lideranças distintas e o impacto que eles têm sobre nós. Quando iniciei minha carreira em grandes empresas como Unilever, Pirelli e Gallo, mal sabia o quanto aprenderia em cada um deles e como poderiam me transformar. Por diversas vezes acreditei que os desafios seriam relacionados a mudança de segmento, de área ou aumento de escopo, mas o principal deles foi sempre relacionado ao meu propósito naquela função, a cultura da corporação e a busca do pertencimento. Hoje me sinto não só respeitada, como uma voz ativa, em um ambiente que preza a informação e o resultado, independentemente do gênero.

Com toda essa mudança acontecendo, nós, mulheres, podemos cada vez mais mostrar nossas habilidades, forças, e como podemos unidas, transformar. Queremos conquistar muito mais que a independência financeira. Desejamos liberdade profissional para podermos ser nós mesmas no ambiente corporativo, ser respeitadas e reconhecidas dessa maneira. É necessário que as companhias tenham consciência do investimento necessário, esforços em treinamentos, especializações, reconhecimentos, entre outros.

Estou confiante que seremos capazes de construir um ambiente do futuro, como a tecnologia que propomos aos nossos clientes. E sonho que esse seja o pensamento de nossos futuros líderes para podermos ter lideranças empáticas, não somente com essa causa, mas com tantas outras que precisam e urgem da nossa atenção.

(*) Thais Ischiara é Head de Marketing & Impacto na Caravel X.

Fonte: Terra

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