Apesar de ser um tema em ascensão no ambiente empresarial, a sustentabilidade ainda não mobiliza tantas companhias abertas no país, de acordo com uma pesquisa feita pela Luvi One, empresa de consultoria e investimentos alternativos. A análise mostra que 63% das empresas listadas na B3 não têm qualquer meta relacionada à redução de impactos climáticos.
O levantamento analisou 384 empresas, todas companhias de capital aberto listadas na bolsa de valores, e levou em conta os relatórios publicados por cada uma delas entre os anos de 2019 e 2020.
Os dados da pesquisa revelam que fora a maioria das empresas sem compromissos fixos, apenas 37% das listadas assumiram – e publicaram – metas genéricas relacionadas às mudanças climáticas. Quando consideradas metas específicas, esse número cai para 17%.
Como metas genéricas, são considerados os compromissos que não têm qualquer prazo ou resultado definido. Já as metas específicas são aquelas com valores, datas e estratégias estabelecidas. Um exemplo é a meta de redução de emissões de poluentes, com porcentagens específicas.
Os dados preocupam se comparado ao cenário visto na Europa, onde esse percentual de companhias que apresentam metas climáticas específicas é bem superior. Por lá, 81% das empresas apresentam metas de redução de emissões, 90% têm metas de redução de desmatamento e 61% possuem metas para utilização sustentável de águas, por exemplo. Nessa comparação, foram consideradas 540 empresas europeias em levantamento feito pela ONG Carbon Disclosure Project (CDP) divulgado pela CO2logic, organização internacional independente de assessoramento ambiental.
Os dados mostram que mesmo com um número tão grande de empresas listadas, a criação de índices específicos voltados à sustentabilidade e avanço no tema, o Brasil ainda não assume a liderança empresarial quando falamos em metas ambientais. Segundo Felipe Gutterres, CEO da Luvi One, a explicação para isso está na ausência de estratégias que olhem para o longo prazo. “As empresas brasileiras têm passado por ciclos econômicos de crise cada vez mais curtos, o que acaba levando a alta gestão para as decisões de curto prazo, indicadores financeiros de performance e busca pela sobrevivência, tirando muitas vezes a estratégia do debate”, diz.
“Quando não se consegue olhar para o longo prazo é difícil enxergar tendências. A questão ambiental é uma megatendência. As empresas brasileiras leram como mais um debate da sociedade e não como uma condição de negócio.”
O futuro, porém, ainda pode mudar – mas depende muito do comprometimento dos órgãos reguladores – e da própria B3 em estimular empresas a adotarem uma postura mais estratégica, diz o especialista. “A CVM e a B3 poderiam desenvolver conjuntamente uma estrutura de divulgação obrigatória abrangente para riscos e impactos ambientais, sociais e climáticos para todas as empresas listadas, dando maior transparência às questões de ESG. Para isso, seria necessário também que se fizesse uma discussão sobre uma padronização taxonômica para que os relatórios divulgados fossem comparáveis”.
Fonte: Exame