Há alguns meses, a Lucree — uma startup de maquininhas de cartões e soluções financeiras — recebeu uma proposta de uma grande adquirente que queria comprar 100% do negócio.
O fundador Eduardo França estava quase dizendo ‘sim’ quando foi conversar com Tiago Tasso, o CFO do Grupo Moura — a maior empresa de baterias da América Latina e que já operava uma joint venture com a Lucree oferecendo maquininhas e soluções financeiros para os revendedores da empresa.
“Por que você vai vender um negócio que está crescendo?” o CFO perguntou ao empreendedor. “Podemos fazer isso juntos, já estamos aqui, é melhor ficar em família.”
O casamento foi adiante: a Moura acaba de anunciar que está comprando uma participação minoritária não revelada na Lucree por R$ 50 milhões.
A injeção de capital vai financiar os planos de crescimento da fintech, que deve transacionar R$ 1 bilhão este ano e espera multiplicar esse valor por 5 até 2024.
A Lucree é o primeiro investimento de venture capital da Moura desde que ela foi fundada em 1957 na pequena Bela Jardim, no interior de Pernambuco. Meio século depois, as baterias da Moura equipam nove dos dez carros mais vendidos do Brasil, e a empresa fatura mais de R$ 3,5 bilhões por ano.
Eduardo e seu sócio, Francisco Sá, fundaram a Lucree em 2017 depois de mais de duas décadas no ecossistema Lemann-Telles-Sicupira. Eduardo começou como trainee na Brahma e chegou a vp global de key accounts da Anheuser-Busch Inbev. Francisco trabalhou na Ambev e chefiou a Kraft Heinz na América Latina. O terceiro sócio, Fernando Perrelli, foi diretor executivo da Bradesco Financiamentos.
A proposta da Lucree: criar uma experiência financeira customizada para as PMEs. Na prática, a Lucree escolhe um segmento, pesquisa profundamente as dores daquele setor e cria soluções financeiras para endereçar os problemas.
A oferta começa na maquininha de cartões, mas vai além — com soluções de financiamento, parcelamento das compras e até venda de seguros e consórcio.
A Lucree divide seus clientes entre ecossistemas fechados e abertos. O ‘fechado’ é quando ela atende, por exemplo, os revendedores de uma grande empresa (o caso da Moura). Já o ‘aberto’ é quando ela entra num setor — como o de médicos, advogados e automotivo — usando sua própria força de vendas.
A joint venture com a Moura — batizada de Propig — foi criada para atender os 50 mil revendedores de baterias da empresa, e uma das soluções que a Lucree implementou foi o parcelamento no cartão de crédito.
“Antes, as revendas não ofereciam o parcelamento porque elas tinham que arcar com o custo de antecipar o recebível depois, que era muito pesado pra elas,” Eduardo disse ao Brazil Journal. “Criamos um modelo em que esse custo fica ou 100% com o consumidor ou 100% com a indústria, ou então é dividido meio a meio.”
Se o cliente opta pelo parcelamento com juros, ele passa o cartão na maquininha da Lucree.
Já nas revendas de carros, mais de 70% das vendas são financiadas, e a Lucree percebeu que a maior dor do consumidor era pagar a entrada. “Criamos uma solução para parcelar o valor da entrada no cartão de crédito em até 18 vezes,” disse Eduardo.
A Lucree também levantou um FIDC para oferecer um financiamento próprio nas revendas.
Com a rodada, a startup, que hoje atua em seis mercados, pretende entrar em mais 20. Segundo Eduardo, a fintech já está em negociação com grandes empresas para criar outros ecossistemas fechados nos moldes da JV com a Moura.
Por enquanto, a Lucree atende 20 mil clientes com suas maquininhas e soluções, e a receita vem principalmente da taxa do parcelamento e do financiamento.
Ela também ganha o MDR das transações de cartão que passam em suas maquininhas, mas — como ainda opera como subadquirente — precisa repassar parte disso para as adquirentes parceiras.
Apesar de já oferecerem soluções semelhantes às da Lucree, Eduardo diz que as empresas tradicionais do setor não têm o mesmo nível de customização e não desenvolvem produtos personalizados para cada setor.
“Eles fazem o ‘one size fits all’, criam produtos de prateleira,” disse o fundador. “Para você conseguir oferecer soluções customizadas, não é fácil: você precisa descer no nível mais baixo e conhecer profundamente cada pequeno varejista.”
Fonte: Brazil Journal