Um estudo conduzido pelo FGV Ibre revelou que a inflação dos principais presentes natalinos registrou um aumento de 1,02% em 2023, comparado ao ano anterior. Este valor situou-se abaixo da inflação geral do país, que atingiu 5%, e também abaixo da inflação dos alimentos da ceia, a qual alcançou 1,95%. Notavelmente, entre as principais quedas de preço estão os itens relacionados a bens duráveis.
O que teve aumento
A pesquisa aponta que quatro dos onze itens de presentes monitorados tiveram redução de preço. Eletrodomésticos (-0,44%), equipamentos eletrônicos (-2,91%), bijuterias (-4,59%), e instrumentos musicais (-0,99%) experimentaram uma diminuição nos valores. Por outro lado, roupas (2,40%), calçados (2,48%), relógios (3,58%), cintos e bolsas (3,24%), perfume (2,15%) e brinquedos e artigos esportivos (2,29%) apresentaram aumento nos preços.
A maior alta, de 6,03%, foi observada nos livros não didáticos. O economista André Braz, analista de inflação do FGV-Ibre, explica que não há uma razão específica para justificar esse aumento, uma vez que os preços da celulose, um componente relevante na produção de papel, estabilizaram-se após o período inicial da pandemia. Provavelmente, trata-se de uma particularidade do mercado, que enfrenta uma crise.
O mercado de livros está atravessando uma fase de crise, com muitas pessoas optando por dispositivos de leitura e livros eletrônicos. Livrarias de renome enfrentam problemas financeiros. [O aumento] é uma característica peculiar do mercado. No entanto, existem livros em diversas áreas, e nem todos necessariamente ficaram mais caros. A ressalva a ser feita é: um livro é sempre um presente valioso, não importa se o escolhido teve aumento de preço. André Braz, economista e analista de inflação do FGV-Ibre
Entre as reduções, destacam-se os itens relacionados a bens duráveis, que geralmente são os mais dispendiosos. André sugere que esse movimento pode ser explicado pela diminuição das taxas de juros. A Selic encerrará 2023 em 11,75%, enquanto no início do ano estava em 13,75%. Quanto mais elevadas as taxas de juros, mais caros se tornam os bens duráveis, frequentemente adquiridos por meio de parcelamento.
Taxas de juros elevadas impedem as pessoas de financiarem bens duráveis de longo prazo, devido ao aumento significativo nos custos. Com taxas de juros altas, quem não dispõe de dinheiro opta por adquirir um eletrodoméstico e pagar dois ou três através de financiamento. É exatamente por isso que se espera que a demanda por esse tipo de produto diminua. Com a demanda enfraquecida, há espaço para preços mais acessíveis. André Braz, economista e analista de inflação do FGV-Ibre
No entanto, o economista ressalta que, apesar dos cortes, a Selic permanece elevada. Portanto, mesmo com a leve queda nos preços, é improvável que esses produtos mais caros sejam amplamente consumidos durante o Natal.
No Natal, os produtos mais procurados para presentear serão: roupas (60%), perfumes/cosméticos (37%), calçados (36%), brinquedos (33%) e acessórios (21%). Essas foram as conclusões de um levantamento realizado pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil, divulgado no início do mês.
A pesquisa estima que o Natal deste ano injetará R$ 74,6 bilhões na economia. Ceia mais acessível
André Braz destaca que, mais do que os presentes, os itens da ceia estão em evidência no que diz respeito aos preços neste Natal. Isso ocorre porque, embora tenham registrado aumento, a elevação nos preços dos alimentos foi mais moderada em comparação ao ano anterior.
A batata inglesa (-16,37%), a cebola (-23,34%), o pernil suíno (1,40%) e o frango inteiro (-13,68%) estão com preços mais baixos. Por outro lado, as maiores altas foram registradas no arroz (20,65%), tomate (22,47%), abacaxi (12,59%) e bacalhau (8,28%). O azeite (29,83%) desponta como o vilão da cesta em termos de preço. Outros itens que encareceram incluem melão (2,26%), uva (1,55%), bolo pronto (3,77%), lombo suíno (0,06%), maionese (7,98%), refrigerantes e água mineral (7,54%), sucos de fruta (5,74%), cerveja (7,58%) e vinho (2,11%).
Segundo Braz, famílias de menor renda tendem a gastar mais com alimentos durante o Natal. Entretanto, em 2023, o aumento nos preços dos alimentos foi menor. A inflação dos produtos de mesa ficou em aproximadamente 4,48%. Portanto, o especialista aposta em um Natal mais inclusivo, no qual as famílias de menor renda terão acesso a alimentos.
O peso maior na cesta está nos itens proteicos, carne suína e aves, que registraram queda de preço. Quando o item mais caro tem seu preço reduzido, abre-se espaço para que as famílias tenham mais condições de garantir uma ceia natalina. Essa é a boa notícia para 2023. Contudo, a cesta não está livre dos vilões, com destaque para o azeite, que teve um aumento de 30%. Isso não se deve ao Brasil; o azeite é produzido na Espanha, Grécia e Portugal. A Espanha é responsável por mais da metade da produção mundial. Todos esses países, especialmente a Espanha, enfrentaram desafios climáticos, resultando em uma safra menor e, consequentemente, aumento nos preços do azeite em todo o mundo. No Brasil, a situação não é diferente; o país produz apenas 1% do azeite que consome. O azeite foi o grande vilão, seguido pelo bacalhau [com alta de 8,28%], devido à desvalorização do real em relação ao dólar. O bacalhau legítimo, importado, ficou mais caro. André Braz, economista e analista de inflação do FGV-Ibre
Fonte: Uol