Há 20 anos, em 2000 os 50 maiores escritórios de advocacia dos Estados Unidos contribuíram com 52% da receita total das 200 maiores bancas. Em 2020, as 50 maiores empresas representaram 62% da receita do mesmo grupo, enquanto o restante das 150 empresas respondeu por 38%. Os escritórios de elite e mais lucrativos, os Big Law, avançaram ainda mais em uma dinâmica apenas exacerbada pela pandemia.
“O topo do mercado está se distanciando, capturando ainda mais o trabalho mais insensível ao preço no processo”, afirma Jim Cotterman, consultor da Altman Weil. Para ele a participação de mercado, combinada com a eficiência do trabalho remoto, acelerou o crescimento das receitas e ajudou esses escritórios a financiarem aumentos salariais e bônus cada vez maiores para os melhores e mais brilhantes jovens advogados.
“A regra básica é que o que você pode pagar pelo talento depende de quanto você pode cobrar dos clientes por esse talento. Essa regra é uma vantagem para as firmas de elite e um fator limitante para quase todas as outras empresas”, acrescenta Cotterman.
Durante a pandemia os escritórios de elite da advocacia americana representaram uma opção segura para os grandes clientes. Muitos analistas reputam essa situação à capacidade de recrutamento e contratação de talentos que essas bancas possuem, capaz de dar conta das altas demandas de trabalho. “Esse crescimento e segmentação entre a Lei Am 50 e o resto do mercado estava acontecendo muito antes da pandemia. Acho que a pandemia apenas exacerbou esse diferencial”, disse o diretor sênior do Wells Fargo, Joseph Mendola.
Para exemplificar o processo de concentração dos escritórios americanos toma-se como exemplo o ano de 2015 e a diferença entre a primeira e a décima banca de advogados com maior receita, 920 milhões de dólares, entre o Norton Rose Fulbright, décimo colocado, e o Latham & Watkins, primeiro. Em 2020 esse número salta para a casa dos 2,6 bilhões de dólares entre o 10° Jones Day e o 1°, Kikkland & Ellis.
Para além dos números, é possível verificar outros fatores que contribuem com essa concentração dos negócios da advocacia entre os maiores escritórios americanos. A “corrida armamentista” cada vez mais exorbitante por talentos, várias centenas de escritórios de advocacia promovendo expansão por meio de fusões e aquisições, resultados financeiros cada vez mais díspares e aumentos de preços constantes nas bancas líderes, enquanto outras enfrentam pressão para diminuição de preço.
Nos últimos anos, os escritórios do topo da pirâmide engoliram uma quantidade cada vez maior de participação no mercado por meio de aquisições e contratações laterais. A pandemia aumentou esse fosso. Os 50 maiores escritórios americanos vêm canibalizando uma parcela cada vez maior da receita entre os 200 maiores, desde a virada do século. As bancas com maior escala e uma base de receita mais ampla são as beneficiárias dessa movimentação.
Mesmo desprovidos de dados analíticos capazes de sustentar e comprovar um comportamento semelhante ao do mercado americano, o fenômeno da concentração de clientes e de receita em grandes bancas deve acontecer no Brasil, se é que não está acontecendo. A carência de informações pode comprometer a identificação, mas a percepção sobre a crescente dificuldade encontrada pelos escritórios brasileiros para contratar advogados pode ser um indicador que o mercado está se consolidando em torno das grades sociedades de advogados.
