O tema é recorrente porque é relevante. Cada vez mais debatido nos Estados Unidos, porque existe. E esquecido no Brasil, porque também existe.
Com frequência analistas americanos do mercado da advocacia afirmam que os escritórios de advocacia deveriam procurar mais caminhos para dividir o poder e a responsabilidade da liderança com advogados mais jovens para conter a fadiga da liderança, preparar a próxima geração para o que está por vir e aumentar o envolvimento ativo dos advogados juniores.
O assunto voltou à pauta da American Lawyer, plataforma especializada na cobertura dos assuntos da advocacia americana, sob o título “Dividir o poder com jovens advogados pode diminuir o desgaste de associados e o esgotamento da gestão”.
No texto o jornalista Patrick Smith, um expoente do jornalismo legal americano, afirma que “Delegar algumas funções de liderança a advogados mais jovens é uma forma de dividir o fardo de liderar e de manter as pessoas envolvidas e por perto”.
As considerações de Smith encontram respaldo em um dos desafios mais difíceis da advocacia americana, que tem efeitos também no Brasil, a retenção de jovens talentos. Para o jornalista à medida que os escritórios de advocacia lutam contra o desgaste de associados e o desgaste de advogados, mesmo no topo, compartilhar o poder, que significa trazer jovens advogados à liderança mais cedo, pode ser um componente chave para combater as ameaças da procura do “lugar melhor” ou das “novas experiências”, especialmente se o foco for expor advogados mais jovens à liderança e não apenas gestão.
Liderança e gestão são coisas diferentes. A advocacia tende a submeter os jovens talentos às maratonas de encargos administrativos, típicos do trabalho em escritórios de advocacia, genericamente denominados de gestão e esquecem de treinar e introduzir os advogados aos aspectos da liderança. Isso afugenta os recém egressos dos cursos de Direito.
“Você alcança essa liderança e fica isolado em um pequeno grupo”, disse Gretchen Harders, da Epstein Becker & Green, empresa que assessora escritórios de advocacia sobre benefícios e remuneração. “Eu acho que se houvesse mais participação na liderança, um grupo mais amplo de pessoas, então você teria mais uma equipe e uma cultura de equipe, e não é tudo em uma pessoa, no ombro da liderança, por assim dizer”, afirma.
As declarações de Harders contém um elemento fundamental para esse novo momento da gestão legal dos tradicionais escritórios de advocacia que é a cultura.
Para Edgar Schein, Ph.D. em psicologia social pela Universidade de Harvard, especialista em desenvolvimento organizacional, incluindo desenvolvimento de carreira, consultoria de processo de grupo e cultura organizacional, cultura e liderança são dois lados da mesma moeda. É função primordial da liderança ter capacidade para perceber os elementos funcionais e disfuncionais da cultura existente e para gerenciar a evolução e a mudança cultural, de tal modo que o grupo possa sobreviver em um ambiente mutante.
Scott Golin, o novo diretor de estratégia e crescimento da Benesch, Friedlander, Coplan & Aronoff, escritório listado na Am Law 200, com 251 advogados e 170 milhões de dólares de faturamento, disse à matéria de Patrick Smith, que um dos fatores fortemente correlacionados ao sucesso dos escritórios de advocacia é o envolvimento dos associados e sócios mais jovens. Essa é uma das razões pelas quais ele afirma estar confortável em mudar de atividade depois de 18 anos como consultor da Hoffman Alvary, uma empresa de consultoria para escritórios de advocacia, que oferece serviços de fusões e aquisições e tem a experiência para orientar sociedades de advogados que buscam crescer por meio de integrações.
Há três pontos que precisam ser considerados pelas atuais lideranças dos escritórios de advocacia:
1. Os escritórios de advocacia poderiam resolver problemas de desgaste e retenção de liderança dividindo o fardo da liderança com advogados mais jovens.
2. Existem lacunas culturais e geracionais em muitas empresas que podem impedir esse empreendimento.
3. As oportunidades certas para os jovens líderes são diferentes daquelas para os mais experientes, e esse problema não pode ser esquecido.
A divisão do poder também pode ajudar os líderes atuais, a se sentirem menos isolados, tomar decisões melhores e aliviar o estresse.