Um mês após finalmente migrar para o Novo Mercado, a rede de farmácias Panvel faz daqui a pouco a primeiro encontro abrangente com investidores, num esforço do grupo gaúcho para mostrar os resultados do plano para dobrar o faturamento até 2025 — chegando a R$ 6 bilhões — e atrair mais acionistas para a base.
No primeiro Panvel Day de sua história, a empresa também anuncia a simplificação da marca corporativa, adotando de vez a nome da farmácia (o ticker já era PNVL3), divisão que faz mais de 90% das vendas do grupo sediado em Eldorado do Sul.
Desde 1967, quando surgiu como uma central de compras de medicamentos criada para atender as drogarias gaúchas Panitz e Velgos (as duas redes que se uniram cinco anos depois, dando origem à Panvel), o grupo atendia pelo nome de Dimed Distribuidora de Medicamentos.
A aproximação com os investidores é mais uma etapa de um movimento iniciado em meados do ano passado, quando a Panvel fez um re-IPO, levantando R$ 480 milhões para financiar a expansão pelo Sul do país. A segunda fase veio com a adesão ao Novo Mercado, convertendo as PNs em ONs (um processo que contou com um embate com os minoritários, até que a companhia aceitou fazer a conversão de 1 para 1).
A Kinea, que comprou a participação detida na Panvel pela IP Capital Partners há dois anos, vendeu parte da posição no follow-on, ampliando a liquidez dos papéis, mas ainda é acionista relevante. Com pouco mais de 5% do capital, a gestora faz parte do bloco de controle da Panvel — composto pelas famílias Mottin, Weber e Pizzatto. Na bolsa, a ex-Dimed está avaliada em R$ 2 bilhões.
“Viemos reforçar o compromisso com a meta de dobrar de tamanho. Vemos uma oportunidade para conquistar share no Paraná e Santa Catarina, estados onde vamos triplicar a base”, disse Julio Mottin Neto, o CEO da Panvel.
A estratégia da expansão da Panvel, concentrada no Sul, é também uma oportunidade. Atualmente, a rede de drogarias é a líder regional com 11,8% de share (a Raia Drogasil detém pouco mais de 7%).
No Rio Grande do Sul, a participação do grupo é de 20%, enquanto a fatia no Paraná e Santa Catarina gira em torno de 5,5%. Não à toa, o grupo joga as fichas para crescer nesses dois Estados — atualmente, os dois mercados são liderados por players locais como a paranaense Nissei e a catarinense Preço Popular, que pertence ao grupo Clamed.
Quando vendeu a tese da expansão no re-IPO, a Panvel contava com 450 lojas — além da presença no Sul, a companhia possui sete lojas em São Paulo —, um número que saltou para 500 e deve se chegar a 527 até o fim do ano. “Serão 850 lojas em 2025”, disse Mottin. Em 2022, 65 lojas serão abertas (80% delas já contam com ponto definido e contrato de aluguel alinhavado).
Nas projeções, a expansão também vai se traduzir em margens maiores. A receita média mensal por loja pularia de R$ 550 mil para R$ 800 mil até 2025, diluindo custos fixos com pessoa e aluguel. “Como vou destravar uma venda média maior, a margem Ebitda sai de 5% para 7,5%”, diz Antônio Carlos Napp, CFO e diretor de relações com investidores.
As novas lojas já vem mostrando sinais positivos. Em menos de um ano da abertura, as vendas médias já chegam a 80% — normalmente, uma loja mais de três anos para atingir o potencial. Na estratégia, a multicanalidade ocupa um papel crucial, com as vendas digitais já respondendo por 16%. As lojas já são abertas funcionando como um hub logístico para o e-commerce.
O tamanho das lojas também faz diferença. Na expansão, a Panvel prioriza pontos com pelo menos dez vagas de estacionamento, em espaços que permitam um mix de produtos maior nas prateleiras. No portfólio, outro trunfo é a marca própria, atualmente restrita a vitaminas e produtos de higene e beleza. “Esse combo é pouco mais de 9% da receita e ainda nem entramos em medicamentos, que é uma oportunidade futura”, diz Mottin.
A vertical de serviços, puxada pela oferta de vacinas, também entusiasma o management e já representa mais de 5% das vendas. Atualmente, a rede já conta com 200 salas da Panvel Clinic, sendo que 80 delas oferecem vacinas. “Se você olha o futuro, as farmácias tem uma vantagem competitiva que nenhuma clínica ou hospital tem, que é a capilaridade”, frisa Napp. As farmácias tiveram autorização da Anvisa para aplicar vacinas em 2017. Entrantes, as drogarias também cobram menos que laboratórios e hospitais.
Uma opcionalidade, não incorporada nas projeções de receita da Panvel, é o lançamento do markeplace, que trará indústrias para vender produtos no site da companhia, que conta com uma audiência mensal de 6 milhões de usuários. A rede ainda não divulga as estimativas da GMV da plataforma, que será lançada até julho do ano que vem, mas trata o projeto como uma prioridade.
A companhia diz que não abre da política de caixa conservadora. “Nossa estrutura de capital está bem confortável. Investimos bastante em estoque, expansão no primeiro semestre, mas a partir do segundo semestre voltamos a gerar caixa, diz o CEO. Em junho, a rede tinha R$ 172,2 milhões em caixa, acima do endividamento bruto de R$ 160 milhões. Durante a expansão, a rede preservará o índice de alavancagem abaixo de 1 vez.
“É comum que o varejo opere de maneira muito alavancada, mas isso é complexo no atual cenário. Ter dívida alta é problema porque o juro está vindo com força. Mas essa não é a realidade da Panvel, felizmente”, frisa o empresário.
Até aqui, os investidores ainda não compraram a tese de crescimento da Panvel – quem sabe o encontro dê um novo tom ao mercado. No ano, os papéis da rede gaúcha caem 38%, enquanto Raia Drogasil recua 10,7% e a Pague Menos sobe 14,9%.
“Entendemos que a ação está super barata, o que é uma oportunidade para quem está com caixa. Mas não nos interessa manchetes de curto prazo que movimentem o preço da ação. O que nos motiva é o resultado ano a ano”, conclui Mottin.
Fonte: Pipeline Valor