A renda do trabalhador brasileiro caiu, em média, 20,1%, passando de R$ 1.118 para R$ 893, no segundo trimestre deste ano —o primeiro completo sob efeito da pandemia de coronavírus— em comparação com o trimestre anterior, de acordo com pesquisa publicada pela FGV Social (Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas). No mesmo período, a desigualdade, medida pelo índice de Gini, aumentou 2,82%.
O impacto da pandemia na renda da população mais pobre foi maior do que na dos mais ricos. A metade mais pobre da população brasileira perdeu 27,9% de sua renda, em média, passando de R$ 199 para R$ 144, enquanto os 10% mais ricos perderam 17,5% —de R$ 5.428 para R$ 4.476.
“Ou seja, trata-se de uma recessão excludente, onde o bolo de rendimentos cai para todos, mas com mais força entre os mais pobres”, afirma o estudo.
Os grupos que mais perderam foram os indígenas (-28,6%), analfabetos (-27,4%) e jovens entre 20 e 24 anos (-26%).
Os dados fazem parte de pesquisa “Efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho brasileiro: Desigualdades, ingredientes trabalhistas e o papel da jornada”, que foi elaborada com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Redução da jornada derrubou renda, mas poupou emprego
Segundo a pesquisa, a queda na renda de 20,1% foi impulsionada pela redução na jornada de trabalho —de 14,34%, em média—, alternativa criada pelo governo no início da pandemia para evitar a perda de empregos.
Ao mesmo tempo, a taxa de ocupação, que mede o nível de emprego no país, caiu 9,9%, mas poderia ter caído 22,8% se não houvesse a redução das jornadas.
“O efeito poupador de postos de trabalho da redução na jornada de trabalho socializa perdas e evita cicatrizes mais permanentes no mercado de trabalho. Este efeito foi maior entre as mulheres, assim como entre os empregados privados formais mais pobres, fatos que são consistentes com a implementação da suspensão parcial do contrato de trabalho instituída após o início da pandemia”, diz o estudo.
Pernambuco tem maior queda
Todos os estados e o Distrito Federal, assim como suas capitais, tiveram queda na renda do trabalho no segundo trimestre. A maior queda foi em Pernambuco, com recuo médio de 26,9%.
“De maneira geral, no topo das perdas temos estados nordestinos, como Alagoas (-25,92%), Bahia (-22,59%) e Piauí (-22.16%). São Paulo (-23,16%) se encontra neste grupo, impactando sobremaneira a média nacional dado o seu peso populacional e econômico”, diz a pesquisa.
As menores perdas foram nos estados da região Norte e Centro-Oeste, como Acre (-5,36%), Amazonas (-9,39%), Tocantins (-10,87%) e Mato Grosso (-11%).
Fonte: Uol