O cenário para a indústria petrolífera não poderia ser mais desafiador, diante da queda abrupta do consumo e das dificuldades para controlar a oferta em meio à pandemia do novo coronavírus. Mas é justamente neste ambiente que a Petrobras registrou, nos nove primeiros meses do ano, uma produção de combustíveis 1,7% maior do que no mesmo período de 2019. A fórmula para este crescimento reside principalmente em dois produtos da companhia.
Um deles é o combustível de navegação, conhecido como bunker. A produção, segundo a Petrobras, tem apresentado crescimento contínuo “devido à captura de oportunidades no mercado externo, oriundas das novas especificações de qualidade de bunker pela Organização Marítima Internacional”.
No início deste ano, uma norma da entidade entrou em vigor, obrigando os armadores a diminuir os níveis de enxofre do combustível usado nas embarcações. Uma das alternativas para isso é a adoção de bunker com menor teor de enxofre, como é o caso da versão produzida pela Petrobras.
Isso porque o petróleo extraído nos campos do pré-sal possui, naturalmente, um nível menor de enxofre. “O nosso petróleo tem essa vantagem competitiva. Produzir um bunker com baixo teor de enxofre não é problema para a Petrobras”, afirma Lavinia Hollanda, doutora em energia pela Fundação Getulio Vargas e presidente da consultoria Escopo Energia.
Em entrevista à revista EXAME, Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, afirmou que a companhia vem obtendo prêmios pelo bunker. “No início do ano, os prêmios estavam muito elevados e caíram pela metade desde então. Mas eles continuam existindo e talvez se acomodem nesse patamar.”
Castello Branco disse que, de maneira geral, todos os países que têm petróleo “leve” (ou “sweet”) podem ter um produto com teor de contaminantes e de enxofre mais baixo. “Este é um mercado novo e que está indo muito bem”, disse o executivo, acrescentando que o centro das negociações do produto tem sido Singapura.
Hollanda destaca que um aumento do prêmio do bunker só faria sentido a partir de agora com a retomada plena da economia global. “No médio e longo prazo, a tendência é que alternativas ainda mais ‘limpas’ acabem ganhando espaço no transporte marítimo.”
Enquanto isso, diante do aumento significativo das exportações de óleo combustível em 2020 pela Petrobras — puxado pelo bunker — a produção total da companhia acabou sendo beneficiada no período.
No mercado interno, a venda de bunker pela estatal também vai bem. Em agosto, a entrega no Porto de Santos alcançou 190.000 toneladas, o maior volume desde abril de 2009, motivado pela “exportação de grãos do período e pela retomada da movimentação de contêineres”.
Diesel
Conforme relatório da Petrobras, desde julho a produção de diesel S-10, com baixo teor de enxofre, também vai bem e tem batido recordes, em meio à estratégia da companhia de substituir o S-500, diesel mais poluente.
“O crescimento da produção do diesel S-10 reflete a maior demanda pelo produto no Brasil, acompanhando a evolução dos motores de veículos pesados e utilitários”, diz a empresa em relatório de produção e vendas.
A petroleira acrescenta que, no terceiro trimestre, houve recuperação da demanda e também de market share de diesel sobre o período imediatamente anterior, devido à retomada da atividade econômica. De julho a setembro, a produção de diesel foi 22,3% superior ao trimestre anterior.
O desafio da petroleira, a partir de agora, será a recuperação das vendas de combustíveis, que ainda enfrentam as consequências da pandemia. Ou ao menos até a Petrobras concluir a venda da maior parte das suas refinarias, dentro do plano estratégico de desinvestimentos.
Paralelamente, a companhia aposta no projeto de biorrefino. A ideia é conseguir a classificação do diesel renovável como biocombustível pelo Conselho Nacional de Política Energética. Segundo a Petrobras, o produto tem uma redução das emissões de cerca de 70% em relação ao diesel comum e de 15% sobre o biodiesel.
Fonte: Exame