A trajetória de descarbonização trará consequências também para as contas públicas (veja Zenius (2021), no caso da Europa). Além de gastos compensatórios de impactos regressivos da precificação do carbono acima mencionados, despesas públicas necessárias em infraestrutura para viabilizar a transição serão requeridas. A não ser na hipótese pouco provável de cobertura total de gastos com alguma taxação de carbono, a tendência será a de aumentos na dívida pública. No caso, sem injustiça intertemporal, já que as futuras gerações agradecerão não ter que viver com um clima permanentemente ainda mais adverso.
E quanto ao PIB e seu crescimento durante a transição? Aqui se repete a dualidade acima abordada. Por um lado, haverá destruição de capital, além de um choque de preços relativos que, como observa Jean Pisani-Ferry, guarda semelhanças com o “choque de oferta” que aconteceu quando os preços do petróleo foram súbita e drasticamente elevados nos anos 70, inclusive reduzindo temporariamente o crescimento potencial. Com a diferença de que, enquanto os preços do petróleo foram revertidos mais tarde, o preço do carbono não poderá fazê-lo se for para o mundo ser descarbonizado. Caso a necessidade de maiores taxas de investimento no PIB acompanhando a descarbonização se choque com limites de capacidade de oferta, o consumo terá de adaptar-se para baixo ao longo da transição.
Por outro lado, é claro que as tecnologias mais limpas também oferecerão oportunidades de elevação de produtividade. De qualquer modo, o retorno socioeconômico da descarbonização tem de incluir evitar que ondas de calor, enchentes, furacões, secas, inundações e temporais como os deste ano se tornem ainda mais intensos e frequentes, até porque o custo disso seria perdas cada vez mais significativas para o PIB das nações.
Fonte: Folha