A sugestão de fusão entre a PetroReconcavo e a divisão de campos de petróleo terrestres da 3R, com uma distribuição de 50% de participação para cada empresa, resultou em um aumento significativo no valor das ações de ambas na bolsa nesta quinta-feira. No entanto, observa-se que uma das empresas tende a se beneficiar mais com essa transação.
Com base na análise de analistas de instituições financeiras e na apresentação feita aos investidores pela Maha Energy, acionista da 3R que propôs a fusão, parece que a 3R é a principal beneficiária. Isso se deve principalmente à projeção de redução do nível de alavancagem financeira da 3R, o que diminuiria a necessidade de aumentar o capital.
A proposta da Maha Energy sugere a transferência de parte da dívida da 3R, cerca de US$ 1,4 bilhão, para a empresa resultante da fusão, sem afetar o caixa da 3R. Nesse cenário, o nível de alavancagem da nova empresa seria de 1,4 vez, abaixo do índice da 3R, que considera apenas os ativos envolvidos na negociação, de 2,3 vezes, mas ainda superior ao atual nível de alavancagem da PetroReconcavo, que é de 0,3 vez.
Há expectativas no mercado de que esse desequilíbrio na alavancagem possa encontrar resistência por parte dos acionistas da PetroReconcavo. Um acionista, em entrevista ao Pipeline, expressou preocupação de que o aumento da dívida para a nova empresa possa ser um obstáculo nas negociações.
No geral, os analistas do Bradesco BBI veem benefícios mais favoráveis para a 3R nos múltiplos implícitos da transação, enquanto o Morgan Stanley calcula, com base no Valor Presente Líquido (VPL), uma relação de 60/40 a favor da 3R. O BTG sugere que cada acionista da 3R receberia uma ação da PetroReconcavo.
Entretanto, isso não significa que a transação não trará ganhos para a PetroReconcavo. O BTG destaca que o acordo resolve um importante obstáculo operacional da empresa no estado do Rio Grande do Norte, onde a produção estava limitada devido às condições de acesso aos ativos de midstream e downstream.
A carta enviada pela Maha ao conselho da PetroReconcavo estima ganhos de sinergia de US$ 1 bilhão para a empresa combinada, especialmente nos campos de petróleo no Rio Grande do Norte e na Bahia, e em suas respectivas infraestruturas. Além disso, a Maha enfatiza que o negócio combinado pode se beneficiar de incentivos fiscais oferecidos pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), devido à localização dos campos na região, o que poderia resultar em uma redução de 75% no imposto de renda.
A Maha espera concluir as negociações até 28 de fevereiro, com a transação prevista para o terceiro trimestre. A empresa resultante da fusão teria uma receita líquida projetada de R$2,097 bilhões em 2024, uma produção estimada de 57.347 barris de óleo equivalente por dia e um valor patrimonial de R$ 2,5 bilhões, tornando-se a segunda maior empresa independente de petróleo da bolsa em termos de produção, ficando atrás apenas da Petrorio.
Os ativos offshore da 3R, que incluem os polos de Papa-Terra na Bacia de Campos (RJ) e Peroá (ES), permaneceriam com a 3R, compartilhando o controle com a Maha Energy. A transação proposta com a PetroReconcavo envolveria apenas os ativos onshore e midstream e downstream da 3R.
É relevante observar que a proposta da Maha foi apresentada no mesmo dia em que a empresa anunciou a aquisição de 5% da 3R por meio de instrumentos derivativos. Anteriormente, a empresa já possuía 15% da 3R Offshore, a subsidiária que engloba os campos de Papa-Terra e Peroá.
Após o envio da proposta às duas empresas, a 3R afirmou que analisará o conteúdo da carta. Até as 14h09, as ações da PetroReconcavo registravam uma alta de 11,66%, alcançando 22,99, enquanto as ações da 3R apresentavam um avanço de 6,77%, atingindo R$ 29,15.
Fonte: Pipeline Valor