O governo do primeiro-ministro Boris Johnson colocou centenas de soldados do Exército de sobreaviso nesta segunda-feira, 27, para agir, caso a escassez de gasolina nos postos do país causada pelas chamadas “compras nervosas” de combustível agravem a crise de abastecimento que atinge o Reino Unido. Dois de cada três postos já estão parados, segundo a associação dos revendedores locais.
Na semana passada, o apelo do governo para que os consumidores evitem os postos – diante de uma escassez de caminhoneiros que dificulta a logística de distribuição de bens de consumo- teve efeito contrário. Os britânicos correram para as estações de serviço, e BP e Shell tiveram de fechar estações. Durante o fim de semana, houve registro até mesmo de brigas em alguns postos.
O governo determinou que o Exército pode ser acionado para distribuir combustível em locais prioritários. Sindicatos de caminhoneiros pediram que os serviços de distribuição tenham primazia, já que supermercados tiveram episódios de desabastecimento nas últimas semanas.
Isso ocorre porque em consequência do Brexit e da pandemia de covid-19 mais de 100 mil motoristas de caminhão, a maioria do Leste Europeu deixaram o país. Com as novas regras migratórias e o coronavírus, muitos preferiram voltar para o continente. A mão de obra local não consegue suprir essa demanda, como alertaram diversos opositores do Brexit durante a campanha para o referendo de 2016.
“Temos amplos estoques de combustível, mas estamos cientes dos problemas de abastecimento nos postos e estamos tomando medidas para amenizar isso. É uma prioridade”, disse o secretário de Comércio Kwasi Kwarteng.
As longas filas, que começaram na sexta-feira, provocaram engarrafamentos e lotação em estradas no fim de semana e durante o dia. Com o aumento das filas, a irritação dos consumidores, que chegaram a esperar horas, também cresceu.
Apesar da pressão sobre Boris Johnson, membros de seu gabinete optaram por atribuir a crise aos consumidores. “A única razão pela qual não temos combustível nas bombas é que as pessoas estão comprando gasolina que não precisam”, disse o secretário do Meio Ambiente, George Eustice.
Em nota, grandes empresas fornecedoras de gasolina, como a BP, a Shell e a Esso disseram em um comunicado conjunto que esperam normalizar o abastecimento nos próximos dias.
O temor agora é de que a falta de gasolina prejudique operações essenciais de serviço de saúde e de segurança. “Trabalhadores de serviço de saúde precisam de acesso prioritário à gasolina para garantir o cuidado dos pacientes”, disse Chaand Nagpaul da Associação Médica do Reino Unido.
A secretária-geral do Unison, sindicato que representa o serviço público no país, alertou para a necessidade de o setor seguir funcionando. “Enfermeiros, médicos, policiais e professores não podem ficar horas na fila para abastecer”, disse a secretária-geral da entidade, Christina McAnea.
Estadão Conteúdo