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Saída de Guedes causaria caos no mercado? O que o teto de gastos tem a ver

Salim Mattar, Mansueto Almeida, Rubem Novaes, Paulo Uebel e Caio Megale. Em menos de dois meses, todos esses nomes, escolhidos a dedo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, deixaram o governo. Agora, a possibilidade de que o próprio Guedes participe da “debandada” já não é vista com descrença, principalmente após o presidente Jair Bolsonaro dar sinais de que pretende desrespeitar o teto de gastos, se mostrando cada vez mais próximo da denominada — pelo próprio Guedes — ala dos “fura-teto”.

Com a aprovação em alta após o auxílio emergencial ter tido efeito em sua popularidade, Bolsonaro irá percorrer 11 estados do Norte e Nordeste do país e como companheiro de caravana o presidente escolheu seu ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. A decisão seria encarada com naturalidade, já que Marinho é ex-deputado pelo estado do Rio Grande do Norte, mas por ser considerado o líder dos “fura-teto”, os rumores sobre uma possível saída de Guedes ganharam ainda mais força.

No mercado financeiro, este é o tema mais em voga e os temores sobre a possível saída do “posto Ipiranga” já causam efeitos na bolsa brasileira. Nesta segunda-feira, 17, o pessimismo dos investidores é traduzido na onda vendedora que derruba o Índice Bovespa, apesar do cenário externo positivo.

“[A escolha de Rogério Marinho para acompanhá-lo] deixa o clima mais instável, porque o presidente está experimentando o crescimento de popularidade muito devido ao auxílio emergencial, que por um lado é necessário, por outro, é o jeito mais fácil de angariar apoio político”, avalia Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual Digital.

Para Marcel Zambello, analista da Necton Investimentos, “não se sabe até quando” Guedes vai continuar no governo. “Bolsonaro assumiu o governo com uma agenda liberal, dando ‘superpoderes’ para Guedes, mas na prática quer usar programas sociais para segurar a bronca [política]. Há um total contrassenso entre o que o presidente fala e o que faz. Bolsonaro dá o voto final e quem confronta, está saindo”, afirma Marcel Zambello, analista da Necton Investimentos.

Na semana passada, logo após a saída de Salim Mattar da Secretaria de Privatizações e de Paulo Uebel da de Desburocratização, Jair Bolsonaro recorreu à imprensa para, ao lado dos presidentes da Câmara e do Senado, reafirmar seu compromisso com o teto de gastos. Em menos de 48 horas depois, ele falou, por meio de redes sociais, que “a ideia de furar o teto existe”.

Neste domingo, um grupo de 80 economistas — tendo entre eles Alexandre Schwartsman e Eduardo Guardia — defendeu, em carta aberta, o cumprimento do teto de gastos para que as contas públicas não entrem em colapso. ”[Sem o teto] a travessia do ano de 2020 teria sido incomparavelmente mais dura”, afirmam.

Em meio à fritura de Paulo Guedes, já se especula sua substituição pelo atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “O mercado gosta do Campos Neto, mas não adianta ir para o Ministério da Economia sem a autonomia para implementar uma agenda. Seria como no segundo governo Dilma, em que colocaram o Joaquim Levy. Mais do que um nome, é preciso uma agenda”, disse Frasson.

Em meados de abril, quando o então ministro da Justiça Sergio Moro deixou o governo, o Ibovespa experimentou sua maior perda desde março, chegando a despencar mais de 9% na mínima intradia e encerrando em queda de 5,45%. “Hoje, Guedes é o pilar do governo. Se ele cair, podemos ter efeitos inimagináveis no mercado”, diz Jefferson Ruik, diretor de câmbio da Correparti.

Fonte: Exame

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