Serviços consolidam frustração com retomada
O setor de serviços caiu 0,4% em relação a novembro e fechou o ano com avanço de 1%, segundo o IBGE. Foi a primeira alta em cinco anos. O setor vinha de sequências negativas desde 2015 e permaneceu estável em 2018.
Ainda assim, o resultado frustrou as expectativas dos economistas, que projetavam um crescimento maior, na casa de 1,5% no ano. Na avaliação do próprio IBGE, o setor ainda está longe de recuperar as perdas acumuladas no período de recessão.
“Entre 2015 e 2017 tivemos uma perda acumulada de 11%, então, essa alta de 2019 é importante, mas ainda está longe de alcançar o melhor resultado”, afirmou o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.
Chama a atenção que os componentes do crescimento de serviços estejam ligado a atividades do mundo digital.
Pesou a favor a alta nos serviços de informação e comunicação, que acumulou crescimento de 3,3% no ano. Contribuíram para o resultado o bom desempenho de portais, provedores e outros serviços de informação na internet, como as ferramentas de busca.
Também contribuíram a favor o segmento de locação de automóveis, impulsionado pelo aumento do número de motoristas de aplicativos.
Por outro lado, o tradicional transporte rodoviário de cargas registrou queda.
Os dois outros setores com monitoramento mensal do IBGE, a indústria e o varejo, também tiveram resultados abaixo do esperado no ano e um dezembro decepcionante.
O varejo interrompeu em dezembro sete meses seguidos de desempenhos positivos e registrou queda de 0,1% em relação a novembro —quando o mercado havia projetado uma alta de 0,2% nas vendas do período. O ano fechou com alta de 1,8%, quase metade do 3,3% estimados inicialmente pelos analistas.
A indústria, que já vinha com resultados mais frágeis, também teve um desempenho pior que o esperado. Depois de alcançar crescimento de 2,5% e 1%, respectivamente em 2017 e 2018, fechou o ano com retração de 1,1%. Economistas ouvidos pela agência Bloomberg projetavam uma queda menor, de 0,8%.
Para especialistas, o cenário do fim de 2019 é preocupante porque influencia negativamente o início de 2020.
“Está claro que a economia não teve a reação esperada”, diz o professor de economia do Ibmec Ricardo Macedo.
Um dos contratempos dessa recuperação mais lenta, diz Macedo, é que ela contribui para retardar investimentos.
“O investimento cria um mecanismo multiplicador na economia que gera empregos, demanda serviços de transporte e contrata gente que demanda comércio”, afirma.
Quem normalmente puxa o investimento é justamente o setor que tem tendo o pior desempenho, a indústria.
“A preocupação maior é a capacidade de recuperação do investimento ligado à falta de competitividade da nossa indústria”, disse Luana Miranda, pesquisadora da área de economia aplicada do FGV-Ibre.
Também passou a pesar contra o cenário externo.
Em 2019, as exportações foram afetadas pela crise argentina e o desentendimento comercial entre China e EUA. Em um primeiro momento, o tratado pode fazer recuar as exportações brasileiras para o país asiático. O recente surto de coronavírus é outro fator que preocupa.
“Choques externos vão afetar a economia brasileira e global. A China é o principal parceiro comercial do Brasil e tem peso importante no comércio mundial”, diz Luana Miranda. Para ela, esses fatores justificam revisão do crescimento de 2020 a um patamar menos otimista. “O cenário é de crescimento mais para 2%.”
A economista Victória Jorge, da Ativa Investimentos, também projeta crescimento menor que o previsto, também de olho no cenário externo.
“O acordo Estados Unidos-China pode impactar a produção de manufaturas do Brasil e principalmente os negócios da agropecuária. Os americanos estão, por exemplo, tendo grande volume de vendas de suínos e vão substituir o Brasil na capacidade produtiva.”
Para Claudio Considera, pesquisador associado do FGV Ibre, um caminho para melhorar o cenário seria o governo acelerar o processo de privatizações e concessões. “O investimento estrangeiro não está vindo, não estão fazendo concessões e privatizações no ritmo necessário para trazer capital estrangeiro de forma que retome investimento.”