Artigo de Luana Dalmolin
Crises de ansiedade, síndrome do pânico, depressão, burnout. Transtornos mentais são cada vez mais comuns e recorrentes no mundo corporativo. Ou ao menos agora trata-se de um assunto que está deixando de ser tabu e posto na mesa para discussão.
Pesquisa realizada pela consultoria de recrutamento Talenses Executive com 92 profissionais C-Level (diretores, VPS, CEOs de médias e grandes empresas) revelou que 70% dos respondentes já sofreram algum tipo de transtorno mental – seja em momentos passados da carreira ou atualmente. O mais citado foi “Crise de Ansiedade”, opção apontada por 40% dos profissionais. Em segundo lugar está “Burnout” (36%) e em terceiro está “Depressão” (17%).
Identificada na década de 1970, a síndrome de burnout também é conhecida como crise de esgotamento profissional. Sua ocorre em pessoas que medem sua auto-estima com base na capacidade de realização de tarefas e sucesso no trabalho. Não é por acaso, portanto, que esteja muito presente na alta liderança das empresas.
Quando perguntados sobre as principais situações do trabalho que podem ter contribuído entre as causas do transtorno, “a pressão por resultado” foi a principal opção de 45% dos respondentes.
Em segundo lugar, aponta a pesquisa da Talenses, está a “carga horária excessiva” (38%), e “exercer funções de mais de um cargo” aparece em terceiro lugar (32%). “Nós realizamos mais de 300 entrevistas por semana e, infelizmente, burnout e outros transtornos mentais são assuntos recorrentes. Foi isso que nos motivou a entender de forma mais aprofundada suas causas e como as empresas endereçam este assunto internamente”, diz João Marcio Souza, CEO da Talenses Executive.
Para 40% dos respondentes, a principal ação que poderia tornar o ambiente de trabalho menos estressante e assim evitar tais transtornos mentais decorrentes do estresse é “sessões de mentoring e coaching concedidos pela própria empresa”. Em seguida, os respondentes apostam no “home office” (39%), e em terceiro lugar está a “flexibilidade de horários” (37%).
Segundo o consultor, os resultados desta pesquisa podem ajudar as empresas a ter visibilidade de onde precisam melhorar e, com isso, traçar um plano estratégico direcionado a esses pontos específicos. “É uma forma de termos um mercado de trabalho mais saudável e maduro, tanto para as empresas, como para os profissionais”, pontua.
AVC aos 33: hora de mudar
Hoje aos 41 anos, o empresário Fernando Gabas sofreu oito anos atrás um AVC hemorrágico e ficou entre a vida e a morte. Na época, ele geria umaholding familiar e era responsável pelas operações da Wise Up, da qual era sócio, nos EUA e na China. O susto foi o gatilho para promover uma mudança de vida. “Eu queria dar um basta nisso, não era possível ter uma experiência de vida tão ruim a ponto de adoecer”.
Para quem pensa que ele diminui o ritmo, apostou errado. Gabas, que hoje mora com a família, sua mulher e os três filhos, tem um negócio de investimentos, uma rede de restaurantes, uma editora de programas de educação socioemocional, negócios em real estate, na área farmacêutica e operações financeiras nos EUA.
“A sua experiência interna não tem nada a ver com os fatos externos. O que determina a sua experiência é a sua percepção dos fatos. A nossa reação muitas vezes está pautada justamente nessa percepção externa”, reflete.
Esta conclusão é fruto de uma longa jornada de conhecimento que passou pelo estudo da psicologia positiva, mindfulness até chegar à meditação, que para ele foi como encontrar o pote de ouro. “A meditação me trouxe uma consciência expandida que permitiu me distanciar dos fatos, sem estar ausente. É isto o que garante um estado de equilíbrio interior”, conta.
A partir daí, sua investida foi criar um método em que pudesse compartilhar tanto conhecimento acumulado por suas andanças pela Índia, Estados Unidos e tantos outros países. Assim nasceu a Life Matters, um protocolo científico sequencial, que pode ser usado por qualquer indivíduo, em qualquer lugar.
O lançamento da plataforma aconteceu em setembro de 2018 e o piloto contou com a participação de 15 pessoas de diferentes backgrounds (coaches, professores de yoga, empresários, atletas, altos executivos etc.), que encararam uma jornada de cinco meses de práticas diárias. A primeira turma, que aconteceu de abril a junho deste ano, já contou com 100 pessoas e, segundo o empresário, teve feedbacks muito positivos.
Gabas defende que todas as empresas deveriam ter um programa de meditação para executivos. “Você pode mudar o que quiser de carga horária, de objetivos, o meio, e nada disso será suficiente. A causa é o indivíduo e não o meio”, defende.
Luana Dalmolin, colunista do Experience Club
Imagem: Divulgação e Unsplash