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Sua Música, o ‘Spotify do Nordeste’, quer capital para crescer

Até meados deste ano, João Gomes era apenas um vaqueiro de Petrolina com a tenra idade de 18 anos e uma paixão pela música desde os tempos do coral da igreja.

Mas em agosto, o pernambucano se tornou o artista mais tocado nas plataformas de streaming do Brasil.

Não é que João teve a ‘sorte’ de uma faixa que viralizou — o garoto emplacou 10 (!!!) canções no Top 200 do Spotify. “Meu pedaço de pecado” ficou dois meses como Top 1 do Spotify Brasil, batendo músicas de todos os gêneros e tornando-se a oitava trilha que mais tempo ficou “no topo das paradas,” como se dizia antes do streaming aposentar o CD.

“Quando eu viajava para alguma cidade próxima para cantar com meus amigos, voltava com algum dinheiro em casa e mostrava para minha mãe para dizer que estava valendo a pena a viagem e que ia dar certo”, João disse numa entrevista recente ao site Popline. “Hoje, com fé em Deus, voltarei com condições ainda melhores do que as de antes.”

Bem-vindo ao mundo de sucessos instantâneos, redescoberta da música regional e audiências superlativas do Sua Música — a plataforma-fenômeno apelidada de ‘o Spotify do Nordeste,’ que está fazendo uma rodada de R$ 50 milhões para consolidar e expandir seu modelo no Brasil.

A empresa de streaming está conversando com grupos de entretenimento e fundos de venture capital para levantar capital a um valuation de R$ 200 milhões (pre money).

O objetivo: investir em tecnologia e assinar artistas como o vaqueiro-prodígio de Petrolina, um compositor nato que tem Cartola e Belchior como referências.

“Pouco antes da pandemia, eu fiz um business plan, botei debaixo do braço e saí conversando com fundos de venture capital — mas foi um desastre,” Roni Bin, um dos sócios do Sua Música, disse ao Brazil Journal. “Ninguém entendia nada que eu falava. Dessa vez, resolvi falar só com quem é do mundo da música.”

Em sua versão atual, o Sua Música começou quando Roni, Rodrigo Amar e Allan Trope — três brasileiros então morando em Tel Aviv — buscavam uma oportunidade para investir.

Em 2013, encontraram o Sua Música, um blog fundado dois anos antes pelo paraibano Éder Rocha Bezerra para ajudar a promover os artistas do Nordeste.

“As bandas locais não vendiam CDs. Elas distribuíam CDs de graça na rua para ficar famosas. Gravavam os shows e botavam na internet para as pessoas baixarem. Botavam em blogs, no Orkut, espalhados”, disse Roni. O Sua Música agregava essas gravações ao vivo.

Os três amigos compraram a empresa de Éder e profissionalizaram o negócio.

Hoje a plataforma tem mais de 9 milhões de usuários únicos por mês — um número que aumenta sazonalmente no verão, no Carnaval e nas festas de São João. (O tráfego principal é do Ceará, seguido por Bahia e São Paulo.)

No lado da oferta, são mais de 16 mil artistas, todos de gêneros musicais do Nordeste, como forró, piseiro, axé e arrocha.

É no Sua Música que despontam fenômenos que bombam no cenário nacional —como Tarcísio do Acordeon, o próprio João Gomes e Zé Vaqueiro, para citar alguns. A partir dali, eles também chegam ao topo de plataformas globais como o Spotify e o Deezer.

Entrar no “Spotify nordestino” é gratuito para artistas e usuários. Os usuários podem fazer o download gratuitamente ou ouvir o conteúdo via streaming, pelo site ou aplicativo. (Há seis meses, a companhia testa uma versão premium, de R$ 3,90 por mês, sem publicidade.) Já o artista só paga se quiser comprar banners para ganhar mais destaque para sua música; com os banners, a chance de aparecer é maior.

Inicialmente, o Sua Música fazia dinheiro apenas com anúncios, mídia programática e branded content, mas em 2018, criou o Sua Música Digital e passou a oferecer serviços de distribuição.

A empresa assina com o artista, pega a música dele, bota no Spotify, no Youtube, em todas as plataformas. Depois, rentabiliza essa música, faz o marketing, recolhe os direitos, passa para o artista e fica com uma porcentagem.

Em fevereiro deste ano, a empresa deu um passo além: lançou o Sua Música Records, uma produtora que gerencia e financia a carreira do artista — da gravação do primeiro CD à venda de shows e lives ao vivo.

Rodando no breakeven desde 2014, o Sua Música já fez duas rodadas com investidores-anjo, em 2014 e 2015, mas não abre os valores.

Segundo Roni, a empresa cresce em torno de 25% a 30% ao ano desde o começo — em 2021, 45% em relação ao ano passado.

A empresa acaba de abrir em Fortaleza o “Sua Música Space” — um espaço para gravações, geração de conteúdo para as redes sociais dos artistas e ativação de marcas do grupo. A ideia é expandir o mesmo modelo para Salvador até o final do ano.

Mais a longo prazo, talvez no fim de 2023, a companhia quer expandir os negócios para a Colômbia e México — e, quem sabe, cair nas graças também dos latinos nos EUA.

“A gente tem um sonho grande de replicar esse modelo para toda a América Latina. A gente já tem a marca registrada, Tu Música, nos EUA”, diz Roni.

Fonte: Brazil Journal

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