Desproporcionalmente impactadas pelas mudanças no meio ambiente, elas são líderes eficazes para a adaptação e a mitigação do clima
À medida que os alertas científicos sobre os impactos da degradação ambiental se tornam mais urgentes, o interesse pelo tema cresce entre consumidores e investidores e as estratégias de sustentabilidade estão cada vez mais presentes nas empresas.
Nesse contexto, entidades como a Organização das Nações Unidas (ONU) destacam que as mulheres são desproporcionalmente impactadas pela emergência climática, ao mesmo tempo em que são líderes eficazes para a adaptação e a mitigação do clima.
Suelma Rosa, líder de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade na Unilever, é uma das mulheres atuando nessa frente. A executiva, que iniciou sua carreira na área de Relações Internacionais, passou por multinacionais, trabalhou no governo federal e no terceiro setor.
Nascida em São Luís, morou em 11 países e hoje vive em São Paulo, onde atua na empresa de bens de consumo. “Pensar de que forma impacta o seu entorno” é como ela define sustentabilidade nos negócios:
— O termo é recente, mas o conceito atual não é diferente de cem anos atrás: é pensar como o seu negócio impacta a sociedade, o meio ambiente e qual sua contribuição para um mundo mais justo, inclusivo e ambientalmente estável — afirma.
Cristina Gil White, diretora executiva de Sustentabilidade da Suzano, por sua vez, define sua área de trabalho como “tudo que vai além do lucro no curto prazo e do compliance com a legislação e permite que uma empresa seja relevante ao longo do tempo”.
A executiva mexicana trabalhou em diferentes organizações não governamentais ligadas à conservação ambiental e à educação. Em 2018, ingressou no setor privado ao se mudar para Nova York para construir a área de sustentabilidade da Orbia, uma empresa química.
Mais tarde, veio o convite da fabricante brasileira de papel e celulose, na qual trabalha há seis meses. Gil White afirma que cada empresa deve definir a sustentabilidade de acordo com a sua indústria e negócio. Isso pode ser feito por meio de estudos de materialidade:
— Considero positivo fazer esses estudos olhando em que áreas a empresa tem maior impacto, assim é possível priorizar onde deve focar os esforços. Algumas empresas, por exemplo, têm impacto maior nas mudanças climáticas, outras têm uma pegada d’água maior. Então é bem importante definir essa materialidade — explica.
Equidade social
As políticas de sustentabilidade envolvem diferentes dimensões. Na Suzano, incluem metas como remover 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera até 2025, tirar 200 mil pessoas da pobreza nas áreas de influência da companhia, além de objetivos relacionados à educação e à diversidade.
— A conquista mais importante é que em cada comunidade onde a Suzano atua temos programas que apoiam as pessoas com alternativas de conhecimento e renda — avalia Gil White. — Temos muitas conquistas que são também da indústria florestal e do papel, nas quais diversas empresas têm adotado as certificações que garantem que estamos fazendo uma gestão que respeita os direitos humanos, os povos indígenas e as áreas de conservação.
A Unilever, dona de marcas como OMO e Kibon, lançou em 2010 um plano de sustentabilidade com o qual alcançou objetivos como o equilíbrio de gênero em cargos gerenciais. Em 2020, a sustentabilidade passou a compor o plano de negócios, chamado pela companhia de Unilever Compass (bússola, em inglês):
— Dentro do pilar de saúde do planeta, temos metas como reduzir 50% do uso do plástico virgem até 2025 e manter toda a operação global “aterro zero”. E temos ainda as dimensões de saúde e bem-estar e de equidade social — explica Suelma Rosa.
Para as líderes, o investimento em ações socioambientais é necessário tanto do ponto de vista de manutenção da vida no planeta quanto do interesse dos grupos estratégicos.
— Para uma empresa ter continuidade, deve gerar valor para seus stakeholders. É uma filosofia de valor compartilhado e também de que, se temos situações climáticas extremas, não vamos poder fazer muitas das atividades dos negócios. É interesse de todos, inclusive das empresas. E os clientes também valorizam, assim como colaboradores e investidores — acrescenta a diretora de Sustentabilidade da Suzano.
Gil White destaca que “os temas ambientais são também sociais”. Isso porque os grupos em condições mais vulneráveis — como mulheres, indígenas e quilombolas — são mais impactados também pelas consequências de condições climáticas extremas. Suelma Rosa acrescenta que, se a adaptação ao clima não for pensada desde já, será criado mais um nível de desigualdade: a do efeito das mudanças climáticas sobre esses grupos.
— Basta observar como as mulheres foram impactadas de forma diferente pela pandemia, com a sobrecarga e o desemprego — compara a líder da Unilever. — A maior parte da discussão do clima está dentro do campo da mitigação, mas há outro aspecto previsto no Acordo de Paris, a adaptação. Os eventos extremos decorrentes dessas mudanças climáticas já estão sendo observados. No Brasil, podemos citar as enchentes, que se agravam.
‘Chegada do ESG’
As executivas afirmam que é preciso recuperar o tempo perdido, mas veem avanços. Para Gil White, são necessárias mais colaborações nessa frente. Suelma Rosa destaca a “chegada do ESG”:
— É um contínuo que começa na Declaração Universal dos Direitos Humanos, passa pelos relatórios e conferências sobre desenvolvimento sustentável e, agora, o último convidado chegou à mesa: o mercado financeiro, preocupado em mensurar os avanços dentro da agenda de projetos de sustentabilidade. A contribuição dos programas de ESG no aumento de valor para os acionistas é uma conversa que não tínhamos há dez anos, e também um incentivo para que as empresas foquem seus negócios em investimentos sustentáveis.
Fonte: O Globo