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Trabalhadores migram do Uber e Lyft para o Instacart

O trabalho nos tempos da pandemia: sai o Uber, entra o carrinho de supermercado

As  corridas de Uber e Lyft caíram até 70% por conta da pandemia nos EUA. Sem clientes, os trabalhadores informais estão migrando para a Instacart, empresa de delivery de compras de supermercado, que já recebeu investimentos de US$ 1,9 bilhão de fundos como o Sequoia e o Andreessen Horowitz.

Com queda de até 70% nas corridas de Uber e Lyft, os trabalhadores da chamada “gig economy” têm de recalcular o trajeto para seguir viagem e garantir alguma renda. A americana Kelly, de 37 anos, que pede para não ter o sobrenome divulgado, é um exemplo dessa nova realidade.

A ex-motorista de Uber se cadastrou há poucas semanas na plataforma Instacart, especializada na entrega de compras de supermercados, que já levantou US$ 1,9 bilhão de fundos como Sequoia Capital e Andreessen Horowitz e foi avaliada em US$ 7,8 bilhões.

 “Eu precisava pagar minhas contas e amigos sugeriram a Instacart. Tenho gostado do aplicativo, mas é mais vagaroso: são menos pedidos do que o Uber”, disse Kelly.  “A gente demora bastante tempo nas filas e nos mercados, mas tenho conseguido levantar o suficiente para honrar com o aluguel.”

Em um momento em que 16 milhões de americanos estão desempregados, a Instacart tende a ser considerada uma boia em que as pessoas podem se agarrar neste momento difícil. Mesmo aquelas que já tinham um emprego informal.

Assim como Kelly, outros 300 mil prestadores de serviço foram convocados no fim de março pela startup californiana Instacart para dar vazão à crescente demanda. Por conta do isolamento social, muitos americanos preferem não sair de casa para fazer compras, repassando a atividade para um terceiro.

Ao NeoFeed, a Instacart informou que, na semana passada, o volume de compras em sua plataforma foi 300% maior do que o experimentado no mesmo período de 2019. Da mesma maneira, o tíquete médio das compras cresceu 25% em comparação ao mês anterior. “Estamos vendo a maior demanda de clientes da história da Instacart”, se pronunciou a empresa em nota oficial.

O modelo de negócios de negócios da Instacart é muito semelhante aos de aplicativos de entregas, como iFood, Rappi ou Uber Eats. A Instacart conecta seus usuários a pessoas que fazem compras em supermercados e entregam as encomendas diretamente em suas casas.

Ao entrar no site ou no aplicativo da Instacart, o cliente digita seu CEP e vê os estabelecimentos parceiros da região. Diversos supermercados e algumas farmácias aparecem como opção.

Ao escolher o fornecedor, ele é levado para uma página com os itens disponíveis. Praticamente todas as opções das prateleiras físicas aparecem nas prateleiras virtuais – por valores iguais ou alguns centavos mais caros.

Depois de escolher os itens, o usuário indica o melhor dia e horário para a entrega, e o valor da taxa cobrada flutua de acordo com o calendário. Usuários que optam pelo serviço recorrente (US$ 99/ano ou US$ 9,99/mês) são isentos da taxa de entrega.

Pedidos de até US$ 35, por exemplo, estão sujeitos a uma taxa que varia entre US$ 3,99 e US$ 9,99, dependendo do prazo estipulado. 

Todas as vezes que o NeoFeed simulou uma compra, porém, o valor fixado para a taxa de delivery era de US$7,99, mesmo com a flexibilidade de entrega. A empresa não respondeu sobre essa questão, mas especula-se que esse valor “mais salgado”, pré-definido, seja necessário para manter a qualidade em meio ao crescimento exponencial do serviço.

A Instacart, no entanto, tem enfrentando suas próprias lombadas pelo caminho. Alguns usuários têm ludibriado os compradores com gorjetas generosas, uma vez que depende de cada prestador de serviço aceitar ou não um pedido.

Kelly explica que, em geral, escolhe seus clientes de acordo com a distância, dificuldade dos itens selecionados e, claro, a famosa “caixinha”. O problema é que os clientes podem mudar o valor do benefício até três dias depois de a entrega ser concluída.

A Instacart explica que isso se deve à experiência de cada um na plataforma, que pode aumentar ou diminuir a compensação financeira. Pessoalmente, Kelly disse que nunca foi afetada por essa prática que ficou conhecida como “tip baiting”, mas tem amigos que foram.

“Não há muito o que fazer a respeito, mas acho maldoso enganar um comprador, o levando a aceitar o seu pedido justamente por conta da caixinha e depois derrubar esse valor”, diz a ex-motorista de Uber. 

Apesar das queixas, a Instacart revelou que, no mês de março, em 99,5% dos pedidos realizados em sua plataforma tiveram as gorjetas mantidas ou alteradas para cima. Ainda de acordo com a companhia, 97% dos usuários ativos do mês passado foram mais generosos com os compradores, engordando em 30% suas caixinhas.

“Para mitigar alguns problemas, retiramos da plataforma a opção de zerar automaticamente a gorjeta. Então, caso queira se isentar dessa cobrança, o cliente tem que colocar manualmente US$ 0 no campo da ‘ caixinha’, o que raramente acontece”, informou a Instacart.

A companhia também aprimorou sua comunicação, encorajando seus clientes a aumentar as gorjetas como uma forma de reconhecimento pelo esforço dos trabalhadores em um cenário tão delicado. 

Tal qual outras plataformas de tecnologia, a Instacart não revela com exatidão o cálculo do valor repassado aos compradores/entregadores. Algumas reportagens garantem que os prestadores de serviço ganham, em média, US$ 10/hora, mas a cifra pode ser maior em cidades com maior poder aquisitivo, como Los Angeles, onde o salário mínimo é de US$ 14,25/hora.

Fonte: https://neofeed.com.br/blog/home/o-trabalho-nos-tempos-do-coronavirus-sai-o-uber-entra-o-carrinho-de-supermercado/ 

Foto: Instacart abriu, em 23 de março, 300 mil novos cadastros para prestadores de serviço, levantou US$ 1,9 bilhão e vale US$ 7,8 bilhões – Reprodução / Divulgação

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