Avanço anual, entretanto, foi menor que o registrado em 2017 e 2018. Em dezembro, vendas recuaram 0,1%, interrompendo uma sequência de 7 altas seguidas.
As vendas do comércio varejista cresceram 1,8% em 2019, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da terceira alta anual seguida, embora tenha ocorrido uma desaceleração em relação ao ritmo de recuperação registrado em 2017 (2,1%) e 2018 (2,3%).
Mesmo após 3 anos de taxas positivas, o setor ainda não conseguiu recuperar as perdas de 2015 e 2016 e mostrou perda de fôlego na reta final do ano. Em dezembro, o volume de vendas no varejo caiu 0,1% na comparação com novembro, primeira queda mensal desde maio.
Durante a recessão, o setor acumulou uma perda de 10,2%. Nos três últimos anos, o ganho acumulado chegou a 6,3%, segundo a gerente da pesquisa, Isabella Nunes. Ou seja, o comércio brasileiro fechou 2019 em um nível de vendas 3,7% abaixo de seu pico mais alto, alcançado em outubro de 2014. O patamar é equivalente ao registrado em abril de 2015, ainda no início da crise. No pior momento, em dezembro de 2016, ficou 13,4% abaixo do pico.
Vendas do comércio ano a ano — Foto: Economia G1
Inflação e renda freiam compras em supermercados
Segundo o IBGE, o crescimento do setor em 2019 só não foi maior por conta do segmento de hipermercado, que foi o que impulsionou as altas de 2017 e 2018. As vendas do segmento, que acumulavam até novembro alta de 0,8% no ano, perderam ritmo em dezembro e fecharam o ano com avanço de 0,4%
“As principais razões que levaram os hipermercados a perderem o protagonismo foram a pressão inflacionária e a renda do trabalho que não cresceu”, disse a pesquisadora.
Ela enfatizou que 40% da população ocupada em 2019 era de trabalhadores informais.“O trabalho informal tem renda menor que o formal e, portanto, não tem condições de aumentar a renda para impactar nas vendas”.
Sete das 8 atividades analisadas pelo IBGE tiveram resultados positivos em 2019, com destaque para as atividades de “Outros artigos de uso pessoal e doméstico” (6%), que engloba lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos e brinquedos, “Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria” (6,8%) e o segmento de “Móveis e eletrodomésticos” (3,6%).
A pesquisa do IBGE mostra ainda que no comércio varejista ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, o volume de vendas cresceu 3,9% em 2019. A alta foi impulsionada pelo setor de veículos, motos, partes e peças (10%), enquanto material de construção teve avanço de 4,3%.
Desempenho de cada segmento em 2019
- Combustíveis e lubrificantes: 0,6%
- Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: 0,4%
- Tecidos, vestuário e calçados: 0,1%
- Móveis e eletrodomésticos: 3,6%
- Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: 6,8%
- Livros, jornais, revistas e papelaria: -20,7%
- Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: 0,8%
- Outros artigos de uso pessoal e doméstico: 6%
- Veículos, motos, partes e peças: 10% (varejo ampliado)
- Material de construção: 4,3% (varejo ampliado)
Primeira queda mensal após 7 altas seguidas
Em dezembro, o volume de vendas do comércio teve queda de 0,1%, na comparação com novembro, interrompendo sete meses seguidos de crescimento. Na comparação com dezembro do ano passado, entretanto, houve alta de 2,6%, favorecido em parte pelo fato de que dezembro de 2019 teve um dia útil a mais do que dezembro de 2018.
Vendas do comércio mês a mês — Foto: Economia G1
Resultado de dezembro decepciona
A expectativa em pesquisa da Reuters era de alta de 0,2% em dezembro na comparação com o mês anterior e de avanço de 3,50% sobre um ano antes.
” A primeira leitura decepciona e acredito que isto deve realimentar a discussão no mercado de que o Banco Central deve cortar mais uma vez a Selic, uma vez que a atividade não engata e a inflação permanece sob controle”, avaliou André Perfeito, economista da Necton.
Seis das 8 atividades pesquisadas no comércio varejista tiveram taxas negativas de novembro para dezembro, sendo que o que mais pesou no índice geral foram as vendas no segmento hipermercados e supermercados (-1,2%).
“Essa atividade, que tem peso de 44% no total do varejo, foi particularmente afetada pelo comportamento dos preços das carnes”, destacou Isabella.
Também pesaram no resultado de dezembro o recuo nas vendas de “Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos” (-2%), “Tecidos, vestuário e calçados (-1%)”, “Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação” (-10,9%); “Combustíveis e lubrificantes” (-0,4%) e “Outros artigos de uso pessoal e doméstico” (-0,1%).
Por outro lado, dois setores mostraram avanço, suavizando a queda no indicador geral: Móveis e eletrodomésticos (3,4%) e Livros, jornais, revistas e papelaria (11,6%).
Já o comércio varejista ampliado, que inclui, além do varejo, as atividades de Veículos, motos, partes e peças e de Material de construção, teve queda de 0,8% em dezembro, em comparação a novembro. O resultado foi impactado, principalmente, pelo recuo de 4% nas vendas de veículos e de 1,1% em material de construção.
Segundo o IBGE, houve queda nas vendas em 18 das 27 unidades da federação, com destaque para os recuos registrados em Roraima (-13,8%), Rondônia (-9,5%) e Acre (-8,2%).
Perda de ritmo no 4º trimestre
Na análise do 4º trimestre frente aos 3 meses anteriores, houve alta de 1,2%, após avanço de 1,6% no 3º trimestre.
A média móvel trimestral também mostrou redução de ritmo, com variação de 0,2% no trimestre encerrado em dezembro, após um avanço de 0,6% em novembro, reforçando a leitura de uma recuperação mais fraca da economia na reta final do ano.
A produção da indústria, por exemplo, caiu 0,7% em dezembro, na segunda taxa negativa seguida – acumulando queda de 2,4% nos últimos dois meses do ano. Em 2019, a indústria acumulou queda de 1,1%.
O mercado financeiro trabalha com uma estimativa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2019 um pouco acima de 1%, após avanço de 1,3% em 2017 e em 2018%. O governo projeta uma alta de 1,12% no PIB do ano passado.
Para 2020, os analistas das instituições financeiras projetam um desemprenho melhor da economia, com crescimento de 2,30% do PIB, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central.