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Volta do ‘carro popular’: por que automóveis são tão caros no Brasil?

O preço do carro mais barato no Brasil atualmente, o hatchback Renault Kwid com motor 1.0, é tão alto que um trabalhador brasileiro que ganhe o salário mínimo teria que trabalhar ininterruptamente por cerca de 50 meses, ou mais de quatro anos seguidos, sem gastar nada, para comprá-lo. Isso ocorre em um momento em que o valor médio de um carro novo no Brasil está em torno de R$ 130 mil, quase o dobro do valor cobrado em 2017.

Para tentar reverter a situação, algumas montadoras estão tendo conversas preliminares com o governo para lançar um “carro popular” ou “carro verde”, que seria vendido entre R$ 50 mil e R$ 60 mil. O objetivo é estimular as vendas no setor automotivo, importante gerador de emprego e renda e que responde por uma parcela significativa do PIB da indústria.

Esses carros poderiam ser movidos apenas a etanol, teriam motores 1.0 e contariam com tributação exclusiva por seu apelo ambiental, adequado a metas de descarbonização, dentro do novo arcabouço fiscal. No entanto, mesmo com essas medidas, o valor proposto ainda seria inacessível para a maioria dos brasileiros, principalmente em meio ao contexto pós-pandemia, de maior inflação, crédito mais caro com altas taxas de juros e perda de renda generalizada.

Comparando com outros países, motoristas de mercados desenvolvidos, como Estados Unidos e União Europeia, e até de países emergentes, como México, acabam pagando bem menos por um modelo zero quilômetro, sobre a mesma base de comparação que abre esta reportagem. Mas, afinal, por que os carros no Brasil são tão caros?

O preço elevado dos carros no Brasil é resultado de um sistema tributário complexo, com diversos impostos que incidem sobre a venda de automóveis, como o ICMS, o IPI e o PIS/Cofins. Em média, os tributos correspondem a 30% a 50% do valor final dos carros nacionais e, no caso de veículos importados, podem chegar a 60% a 80%. Esse protecionismo visa a promover a produção local e o emprego, mas acaba limitando a concorrência, o que resulta em preços mais altos para os consumidores.

Apesar disso, o número de montadoras no país aumentou significativamente nas últimas décadas, com marcas reconhecidas internacionalmente produzindo no Brasil para baratear custos. No entanto, os custos trabalhistas também são altos no país, aumentando o custo de produção de carros e dificultando a competição dos fabricantes com outros países com custos de mão-de-obra mais baixos. Estima-se que as empresas gastem duas vezes e meia o que pagam ao trabalhador.

Outro fator que encarece o preço dos carros no Brasil é a infraestrutura precária do país, com muitas estradas e rodovias em más condições, o que representa um desafio para o transporte de automóveis e peças. Isso encarece ainda mais o custo, que é repassado ao consumidor.

O aumento dos preços dos automóveis no Brasil é resultado de diversos fatores. Além dos sistemas de segurança exigidos por lei, o consumidor está mais exigente quanto ao pacote de equipamentos do veículo. Desde 2013, todos os carros novos devem ser equipados com airbag e freios ABS. A incorporação de novas tecnologias, sejam elas de segurança, conforto ou conectividade, também contribui para o aumento de preços.

A desvalorização do real brasileiro em relação ao dólar americano tornou mais caro para os fabricantes importar peças e equipamentos, o que também contribuiu para o aumento geral dos preços dos automóveis. Além disso, a pandemia de covid-19 encareceu as matérias-primas e desestabilizou as cadeias de suprimentos das indústrias, gerando desafios logísticos que encareceram o valor dos carros ao redor do mundo.

A escassez global de semicondutores também é um fator que encareceu o valor dos carros, já que esses componentes estão presentes em diversos sistemas do veículo.

Além desses fatores, a paixão do brasileiro por carros e a margem de lucro das montadoras também contribuem para o aumento dos preços. As margens de lucro no Brasil são, em média, maiores do que nos mercados americano e europeu. Apesar disso, o mercado mudou nos últimos anos, com menos brasileiros comprando carros novos e mais vendas diretas para Pessoa Jurídica.

Kalume Neto observa que, embora a proposta de um “carro popular” possa avançar, esse tipo de veículo já não se parece em nada com os “carros pelados” da década de 90, que não possuíam itens de série como encostos de cabeça ou retrovisores direitos. Ele aponta que a indústria automotiva evoluiu, concentrando-se em veículos de maior valor agregado, e que os consumidores também se tornaram mais exigentes.

Apesar disso, ele acredita que ainda há espaço para um “modelo de entrada” mais barato. Segundo ele, as vendas do setor têm ficado estagnadas em cerca de 2 milhões de unidades nos últimos três anos, enquanto a capacidade produtiva é de mais de 4,5 milhões de unidades. No entanto, ele prefere o termo “carro de entrada” em vez de “carro popular”, devido à associação deste último com os “carros pelados” do passado, que já não existem mais devido à legislação.

Kalume Neto afirma que a redução de preços em cerca de R$10 mil seria possível, mas provavelmente teria que ser acompanhada por uma redução nos equipamentos tecnológicos do veículo. Ele também questiona a viabilidade de um veículo movido apenas a etanol, pois isso exigiria uma mudança significativa na linha de montagem, que atualmente é dominada por motores flex.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) afirmou que ainda não recebeu a proposta da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), enquanto a própria Anfavea disse que os diálogos ainda estão em estágio preliminar e que a formatação do programa dependerá de muita discussão interna e com as autoridades competentes.

Fonte: BBC News Brasil

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